17.1.11

O amor na maturidade por Filipe de Paiva

Namorar é bom mas não é fácil, reza o senso comum. É preciso ajustar aqui, aparar acolá, ponderar mais adiante, reconhecer se o par é o ideal. Se não, adiante. Para os jovens pode não ser tão complicado. Mas, em idades mais avançadas, a experiência acumulada é fonte quase certa de insegurança. De onde vem o medo e como acertar o passo na jornada por um novo amor? A resposta pode estar no equilíbrio do ego, defende especialista.
Às explicações iniciais: o ego é o “eu” de uma pessoa, seu ponto de vista único, diferente dos demais, e tem como vizinhos o id – a soma dos impulsos e desejos, sempre em busca do prazer imediato – e o superego, que avalia as questões morais, dialoga com o mundo externo e cuida para que as vontades não levem ao caos. Cabe ao ego tentar manter seus dois vizinhos satisfeitos e ainda tomar conta de si próprio. “A tarefa não é fácil! Daí as culpas, as incertezas, as reticências, as ponderações”, diz o psicólogo Guilherme Olivier, especialista em psicoterapia psicanalítica.
É preciso abraçar o ego e encorajá-lo a se expandir mais. Este processo amplia o autoconhecimento e dá mais autoconfiança. “O Ego é cheio de boas intenções”, defende Olivier. Um ego equilibrado pode preparar o terreno para o namoro após o fim de um relacionamento importante e será um grande atrativo para os pretendentes. Quem não se sente bem perto de uma pessoa que se conheça a fundo, saiba o que quer e goste de si mesma? Se o ego não está lá muito forte, aqui vão algumas dicas para usar todo o seu potencial sem perder o controle e torná-lo um aliado do amor.

Não existe nada de errado em alimentar o ego. O problema começa é se o ego estiver inflado – o que pode ser relacionado a atitudes ruins. “Aquelas pessoas que ‘se acham’, que olham o semelhante por cima e, quiçá, nem o consideram”, diz Olivier. Daí a importância de manter o ego equilibrado e buscar reconhecer os limites que existem, por exemplo, entre a autoconfiança e a prepotência. “Este ‘ego inflado’ na realidade padece da pobreza de não ver que, no mundo, ele está com os outros e que nem sempre as suas necessidades serão prontamente atendidas”, explica o psicólogo.

Se o ser humano fosse uma empresa, o ego seria seu presidente. Ele pode ser um verdadeiro guerreiro protegendo as entradas do corpo, da mente e do coração, influenciando nas decisões que são tomadas. Mas quando ele é agredido, como depois do fim de um relacionamento, ele pode se transformar em um vigarista astuto e destrutivo. Se as decisões tomadas são muito extremas, é preciso fazer uns ajustes no presidente da empresa, ou ela pode acabar falindo. Segundo Olivier, o ego pode se tornar um vilão quando passa a intermediar o id e o superego ferido, temeroso e cheio de suspeitas – seja com ele mesmo, seja com os outros.
O ego também funciona como o administrador das finanças da empresa. Ele julga ganhos como coisas boas e perdas como coisas ruins. Mas a natureza não distingue e fez a vida cheia de conquistas e decepções. Para lidar bem com isto, uma ótima estratégia é tentar ver sempre os dois lados de cada situação, julgando o menos possível. “Isto não é fácil, é coisa de gente grande”, brinca Olivier. Este exercício ensina a aceitar o que a vida dá e o que ela tira, preparando para os altos e baixos dos relacionamentos que estão por vir.

Egocentrismo não faz bem a ninguém. Quando o ego está em equilíbrio, as expectativas que se tem para um relacionamento e as formas de expressá-las são saudáveis. Mas mania de controlar tudo que está ao redor e achar que se está sempre certo podem destruir uma relação – ou simplesmente impedir o começo de uma nova. Neste caso, é bom pisar no freio do ego e trabalhar para que ele se acalme e se controle. “Perceber que estamos no mundo e que nele devemos fazer história, independentemente da idade, é o melhor controle para o egocentrismo”, ressalta Olivier.

A confiança está diretamente ligada ao ego. “É fundamental ao ego que ele possa confiar em si e, obviamente, nos outros”, diz o psicólogo. Insistir em dar muito valor às próprias opiniões e menosprezar as alheias pode tornar a confiança – essencial para qualquer relacionamento – difícil de ser construída. Quanto mais se praticar a humildade, mais saudável será o ego. Assim confiar fica mais fácil e a porta do amor se abre.
Além dos limites impostos pelo id e pelo superego, o ego precisa ser contido pela própria pessoa. Sem uma barreira psicológica uma pessoa é facilmente absorvida pela definição que os outros têm dela, prejudicando sua própria visão de si mesma. Entender o ego fortalece a capacidade de compreender os próprios sentimentos e os alheios. Revelar estes sentimentos não apenas ajudam na auto definição como também dão apoio para descobrir que há pouco – ou nada – a temer no processo de se estudar e analisar. “Esta é a importância de limitar o ego e deixá-lo em harmonia com os outros egos que estão por aí”, explica Olivier. E nada melhor para harmonizar os egos que um bom diálogo com o parceiro.

Conflitos podem colocar o ego em perspectiva. Parece estranho, mas um conflito pode ser a chave para uma intimidade mais forte. “Como conciliar o que queremos com as interdições que são da vida? A maturidade é brilhante porque ela compreendeu bem este diálogo... Eis a sabedoria”, exalta Olivier. Conflitos criam, sim, dor e desconforto, mas deixar levar o ego a lutar contra estes sentimentos ruins ajudará a fortalecer a aproximação, dando maiores chances de sucesso à relação. “O que faz bem a um relacionamento é que um ego possa dialogar com o outro”, defende o psicólogo. Quem diz que o diálogo é a chave de qualquer relação sabe do que está falando.
Autor: Filipe de Paiva
Fonte: Maisde50