Por Ana Claudia Peixoto Leal, Insituto de Educação Superiror de Brasília
Título: Colcha de Retalhos
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 116 minutos
Ano de Lançamento: 1995
Elenco: Winona Rider, Anne Bancroft, Ellen Burstyn, Kate Nelligan entre outros.
Colcha de retalhos é um filme que conta a história da jovem Finn (Winona Rider), que se refugia na casa da avó para terminar de escrever uma tese, enquanto seu apartamento está sendo reformado. Confusa em relação à sua decisão de casar-se, a jovem Finn acaba participando da história de sete mulheres, mais velhas, com quem ela passa a conviver. Essas mulheres estão envolvidas na elaboração de uma colcha de retalhos, com a qual pretendem presenteá-la.
As mulheres que costuram junto essa colcha são amigas que se conhecem e se encontram há muitos anos. Muitas outras colchas já foram feitas, mas cada colcha é diferente da anterior; cada colcha tem sempre um tema diferente e a essa colcha, especificamente, elas dão o nome de “Onde mora o amor”. Ao longo do filme, enquanto bordam a colcha, cada uma das mulheres tem a oportunidade de contar um pouco sobre como viveram o amor em suas vidas. Ao relembrar suas histórias, cada uma delas também tem a oportunidade de integrar suas experiências pessoais.
O filme nos remete ao que Erik Erikson nos diz, sobre a necessidade que adultos mais velhos tem de avaliar, resumir e aceitar sua vida, para poderem aceitar a aproximação da morte (Papalia, 2006). Colcha de retalhos é um filme que permite ver esse processo acontecendo. Cada uma das personagens pode reviver momentos significativos de suas vidas, dividindo suas lembranças e experiências com uma mulher mais jovem que elas. No recontar, cada uma delas pode não apenas avaliar o que viveu, mas olhar suas experiências sob um outro ponto de vista.
As mulheres do filme moram todas na mesma cidade onde passaram sua juventude, onde casaram e onde criaram seus filhos. Uma delas, a mais jovem delas, com cerca de 50 anos, embora tenha viajado muito, está de volta à cidade onde nasceu, aparentemente se preparando para viver seus últimos anos. Berger (2003) descreve que a maioria das pessoas idosas prefere realmente “envelhecer no mesmo lugar”, permanecendo na mesma casa, sem nunca se mudar, descrevendo esse fato como uma característica da terceira idade, (ou idade adulta avançada). Por outro lado, essa tendência a continuar no lugar onde sempre viveram, faz com que muitos idosos acabem vivendo sozinhos, o que também pode ser observado durante o filme. Das sete mulheres, três moram sozinhas: uma é solteira, outra viúva e a outra, que foi abandonada pelo marido ainda jovem. Duas outras, irmãs, moram juntas após terem ambas ficado viúvas. Com elas mora Ana, que foi empregada da casa e sempre morou com a irmã mais velha delas. Apenas uma delas ainda vive com o marido.
O filme mostra as mulheres envolvidas na elaboração de um projeto comum. Aqui surge outro aspecto importante da terceira idade - pessoas idosas precisam continuar a manter alguma atividade, quer seja de cunho profissional, político, voluntário ou dentro do próprio lar (Berger, 2003). Quando a escolha recai sobre o lar, as pessoas idosas se mantêm ocupadas realizando outros tipos de trabalho que não aqueles domésticos necessários para manutenção da casa e que muitas vezes foram realizados por toda a vida. É o que acontece com essas mulheres, que se dedicam à costura e ao bordado, criando juntas, nos últimos anos de suas vidas, verdadeiras obras de arte.
Outro aspecto importante relacionado à terceira idade, diz respeito à importância e à qualidade da convivência social necessária nesse período. Nessa fase da vida, as pessoas têm alguns amigos de muitos anos, cultivados ao longo da vida, e a satisfação das pessoas idosas tem uma forte correlação com a quantidade e a qualidade do seu contato com os amigos, às vezes mais do que com a própria família. Para adultos mais velhos, a continuidade da rede social, com o passar do tempo, é uma afirmação importante. Amigos que “os conheciam quando...”, são especialmente importantes (Berger, 2003). Nesse filme, as mulheres fazem parte de um “clube de costura”, que se reúne regularmente para fazer seu trabalho, há mais de vinte anos. Fica clara a importância desses encontros e do quanto o convívio é importante para cada uma delas, que nunca faltam aos encontros. Observa-se um forte vínculo afetivo. Conhecem-se desde a juventude e conhecem as histórias umas das outras. São mulheres que percebem as diferenças entre si, mas que se respeitam e se mantém unidas.
O filme é generoso ao mostrar aspectos relacionados à terceira idade, mas não apenas isso. Ao relembrar suas vidas, temos a oportunidade de ver aquelas mulheres quando eram mais jovens e de ver o que se tornaram quando mais velhas, como resultado de escolhas feitas e das dificuldades enfrentadas. Para muitos idosos, por exemplo, o cônjuge pode ser a melhor proteção contra os problemas potenciais da velhice (Berger, 2003). Isso pode ser observado naquela mulher que ainda é casada com seu primeiro marido, embora o casamento tenha sido motivo de alguma frustração ao longo dos anos, em função da infidelidade conjugal dele. A personagem, mesmo depois de algumas tentativas de separação, mantem-se casada até o final do filme. Ao envelhecerem, podemos observar que conflitos se tornaram menos desagradáveis do que eram quando o casal era jovem. Apesar das diferenças, o casal passa a aceitar suas fragilidades mútuas, cuidando das necessidades um do outro da melhor maneira possível. Percebe-se entre eles, não apenas sentimentos de simples obrigação, mas de afeição.
Erikson dizia que a grande virtude que pode ser desenvolvida, na terceira idade é a sabedoria (Papalia, 2006), que significa a capacidade de aceitar a vida que se viveu, sem maiores arrependimentos. Assim, a realização suprema da terceira idade é o senso de integridade do ego, ou self, realização essa baseada na reflexão e na aceitação sobre a própria vida. As pessoas que não alcançam essa aceitação sucumbem ao desespero. Acho que foi especialmente isso que me chamou a atenção no final do filme. Ao ver aquelas mulheres tão serenas e dedicadas ao trabalho, bordando um pedaço de sua vida naquela colcha, podemos observar que no coração delas há aceitação e amor. Isso é muito significativo. Penso que é assim que todos nós queremos chegar à velhice. Juntando os “pedaços” de nossa vida, esperamos construir uma história da qual cada um de nós possa se orgulhar.
Referência Bibliográfica:
Berger, K.S. (2003). O desenvolvimento da pessoa: da infância à terceira idade. Rio de Janeiro: LTC.
Papalia, D.E.,Olds, S.W. & Feldman, R.D. (2006). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed.