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Operador de ceifadeira Carlos, 38 anos, sentiu que algo não ia bem aos 21 anos. Passou a desmaiar e o diagnóstico foi de solitária no cérebro. O problema clínico desencadeou quadro depressivo em Carlos, que a partir de então passou a evitar a família, foi morar sozinho e perdeu o contato com amigos.
“Senti que minha vida tinha acabado. Uma tristeza imensa se abateu sobre mim.”
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) para cada homem com quadro depressivo, há duas mulheres.
Mas essa prevalência de sexo é questionada. Estudos sobre hereditariedade relativos à depressão, comandados pelo pesquisador americano Patrick Sulivan, mostram controvérsias quanto a diferenças devidas ao gênero, e há pelo menos uma revisão que não verificou distinções entre os sexos.
Há 4 anos, o operador de ceifadeira ateou fogo em si e sofreu queimaduras em 72% do corpo. Mais um motivo para a depressão se instalar de vez em Carlos. “As sequelas não me deixam mais trabalhar.”
A depressão chegou de mansinho para Pedro (os nomes são fictícios). Num dia, acordou desanimado e sem vontade de sair da cama. No outro, sentiu sensação de culpa e vontade de chorar sem motivos aparentes.
“A depressão era considerada uma fraqueza. Por isso, o tratamento era procurado mais por mulheres. O que percebemos é que a prevalência se equipara”, diz Maria das Graças Nahaes, assistente social do Hospital Bezerra de Menezes de Rio Preto.
População adulta sofre com problema mental
Cerca de 20% da população adulta têm problemas mentais graves: 4,5% sofre com depressão moderada, 1,5% depressão grave, 2% com transtorno bipolar, 2% com fobia social grave, 0,5% com esquizofrenia, 8% com alcoolismo e 1,5% com Transtorno Obsessivo Compulsivo grave.
Homens comentem mais suicídio no país
Entre as mulheres, a taxa oficial de suicídio é de 1,9. Já entre os homens é de 7,1 a cada 100 mil habitantes, mostra estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Evolução no tratamento da doença
Não é fácil falar abertamente sobre depressão, apesar de ser uma doença descrita há quase três mil anos. É que há um misto de desconhecimento e preconceito, principalmente quando o assunto é tratamento.
Segundo Frederico Navas Demétrio, psiquiatra do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), os medicamentos para o combate à depressão têm evoluído ao longo dos anos.
“Os antidepressivos da terceira geração, conhecidos como Duais, atuam no organismo de maneira mais eficaz, com diminuição dos efeitos colaterais”, diz.
Segundo ele, nas últimas duas décadas, os antidepressivos ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina), conhecidos como de segunda geração, foram os mais prescritos.
“Os ISRS mostram eficácia com menores índices de eventos adversos observados nos antidepressivos de primeira geração (chamados de tricíclios, responsáveis pelo baixo índice de adesão ao tratamento). No entanto, quando se compara os ISRS aos Duais, estes últimos conseguem um incremento na eficácia do tratamento por atuar também na noradrenalina, além da serotonina”, diz.
Atividades físicas
Além dos antidepressivos, o médico afirma que é importante a prática de atividades físicas, pois liberam endorfina (substância que causa sensação de alegria e bem-estar).
“Isso acontece porque o cérebro de um paciente com depressão apresenta alterações químicas que precisam ser equilibradas, principalmente no sistema nervoso que é responsável pelos níveis de humor, alegria, tristeza, energia e interesse”, afirma.
O psiquiatra diz que é preciso rever o modo como a sociedade lida com pessoas com depressão. “O preconceito só faz o quadro depressivo piorar, o que torna o tratamento mais difícil e demorado”, diz Frederico.
Diagnóstico
O psiquiatra Kalil Duailibi, coordenador da Universidade de Santo Amaro, em São Paulo, afirma que não tem como saber se o paciente tem depressão por meio de um exame específico.
Segundo o psiquiatra, mais do que admitir para si que está com depressão, o paciente tem dificuldades em se adaptar aos tratamentos que podem durar meses ou anos de terapia e medicamentos que, dependendo da composição, causam efeitos colaterais.
“O tratamento da depressão deve continuar até o desaparecimento dos sintomas. Caso contrário, pode haver recaídas do paciente. É importante ressaltar que não falamos em cura, mas em remissão da doença. Nada pode garantir que a pessoa não sofrerá com isso novamente”, diz o psiquiatra.
Idosos
O geriatra Paulo Renato Canineu, professor da PUC de São Paulo, lida com um paciente com tipo específico de depressão: a do idoso.
“A depressão na fase de envelhecimento vem acompanhada de outras doenças como diabetes, osteoporose, neoplasias, insuficiência coronária e outras. É preciso cuidado para a combinação de medicações não prejudicar o paciente”, afirma.
O geriatra diz que os idosos, inclusive da quarta idade (acima dos 85 anos), devem assumir o envelhecimento como realidade de vida, desmitificar o envelhecimento, começar ou dar continuidade a atividades na sociedade, na família e no trabalho. “Os idosos não devem deixar de fazer exercício, além de manter os sonhos e os objetivos”, diz.