22.11.10

Inspire, expire, apaixone-se: relatos sobre uma aula de meditação por Pagan Kennedy*

Imagem Ilustrativa
No corredor da frente da casa vitoriana havia um aviso plastificado que dizia “Sapatos” e, debaixo dele, uma fileira de sandálias de couro Birkenstocks e tamancos Danskos ao longo da parede. Eu podia ouvir vozes vindas do salão de meditação no andar de cima, então imaginei que as pessoas já estavam se acomodando. Sentei-me e tirei minhas botas, desejando que cada objeto tivesse um aviso. Se meu ex-namorado tivesse usado um aviso na noite anterior dizendo “ex-namorado” eu não teria dormido com ele.

Subi as escadas e tentei abrir a porta sem fazer barulho. Do lado de dentro, duas dúzias de pessoas estavam sentadas sobre almofadas. Era o mesmo tipo de gente que você encontra numa livraria – muitos óculos, blusas de lã grossas, bolsas de laptop. Algumas ainda cochichavam, mas percebi que a sala estava prestes a entrar num transe de silêncio majestoso. Então me apressei para juntar-me aos demais.

Sentada de pernas cruzadas, com as palmas das mãos voltadas para cima, comecei a me debater com o básico da meditação Vipassana, tentando prestar atenção na minha respiração à medida que ela passava pelas narinas. “Vipassana” vem do Pali e quer dizer “insight”, mas aqui em Cambridge, Massachussetts, o termo tem outra conotação – um certo estilo excessivamente educado da Costa Leste de se sentar sobre um travesseiro.

Numa plataforma, o professor relaxava em seu banco de meditação, usando um casaco surrado da Patagônia, com o cabelo grisalho preso num nó. “Durante as próximas oito horas, vocês não dirão uma palavra”, ele disse animadamente. “Todos lembraram de trazer um lanche?”

Naquele ponto da minha vida eu nunca havia experimentado um dia inteiro de meditação. Eu fumei como uma chaminé entre vários namoros porque não tinha a mínima ideia de como ficar sozinha. Eu odiava o lado gelado da cama e os cabides vazios que faziam barulho no guarda-roupa. E foi por isso que comecei a meditar. Pensei em tentar me envolver com a solidão da mesma forma como se entra no mar, acostumando-me aos poucos à água fria – primeiro os pés, depois os tornozelos, depois as pernas.

Hoje seria o primeiro dia que eu mergulharia a cabeça. Eu estava aterrorizada. Mas depois de praticar Vipassana por alguns meses, eu também sabia como lidar com aquele terror: eu colocaria meu medo numa vitrine, como se fosse um diamante, e acenderia a luz sobre ele. Inspirando. Expirando. E foi isso que fiz por horas, até me coçar de tédio.

Eventualmente, permiti a mim mesma espionar as outras pessoas na sala, com os ombros enrolados em cobertas, as mãos abertas, rostos desprovidos de expressão. Foi quando o notei a algumas almofadas de distância: um homem alto e magro com uma camisa de abotoar, cabelos loiros sobre as orelhas delicadas. Era difícil ver seu rosto – eu estava sentada atrás dele – mas pude ver que ele usava óculos com armação fina consertada com fita-crepe. Suas calças de veludo cotelê estavam gastas nos joelhos. Seu pulso aparecia através da manga, adoravelmente magro e delicado.

Ele parecia estar colado com fita-crepe e trapos, e também achei aquilo adorável. Naquele ponto, é claro, eu já tinha começado a inventar uma história sobre ele. Ele administrava um abrigo para sem-teto ou, melhor ainda, um abrigo para cães. Ele lia até tarde da noite, debruçado sobre antigos romances russos.

Fechei meus olhos e tentei retomar o ritmo da minha meditação. Mas podia senti-lo perto de mim queimando como um forno a lenha. Parecia que ele também estava consciente da minha presença, como se nossos pensamentos estivessem entrelaçados no ar sobre as cabeças dos outros meditadores. Mas é claro que isso era uma ilusão. Apaixonar-se por alguém na sala de meditação acontece com tanta frequência que alguns budistas têm um nome para isso: o Romance Vipassana (ou RV, abreviando).

Minha amiga Alice me alertou sobre essa armadilha da mente depois de voltar de nove dias de meditação silenciosa em Berkshires. “Todo mundo que medita eventualmente tem um RV”, disse ela. “O meu foi realmente tórrido.”

No primeiro dia ela se apaixonou por um cara duas almofadas à frente por causa da forma poética como ele dobrava seus dedos. Ela passou horas imaginando como o seduziria. No segundo dia ela planejou o casamento deles, decidindo servir um bolo vegan e outro como creme amanteigado.

“E nesse ponto você nunca tinha falado com o cara?”, perguntei.

“Nenhuma palavra”, disse ela.

No quarto dia, ela já o odiava. Ela detestava suas mãos; o jeito extravagante com que ele dobrava os dedos parecia pretensioso. E simplesmente assim, seu Romance Vipassana se foi.

“Quando acontecer com você”, aconselhou Alice, “apenas lembre-se de respirar. Apenas observe.”

Agora, na sala de meditação, eu tentava seguir suas instruções, voltando minha atenção para o espaço entre as minhas narinas. Agora, aqui, hoje eu tinha a chance de dar um pequeno passo em direção à liberdade mental. Eu aprenderia a resistir ao RV.

O professor tocou um gongo; era hora do almoço. “Lembrem-se”, disse ele, e então colocou um dedo sobre os lábios, lembrando-nos de nosso voto de silêncio de um dia inteiro.

Levantamo-nos de nossas almofadas e fizemos uma fila na porta. O homem de óculos colado com fita crepe entrou na fila um pouco atrás de mim. Seu olhar parecia esfregar meu pescoço. “Não é interessante como minha mente cria essas alucinações?”, obriguei-me a pensar. “Parece que ele está me devorando com os olhos. Mas isso é apenas uma ilusão.”

Nós descemos as escadas em fila. Eu fiquei tentada a ficar pela cozinha, onde o Óculos-Colado estava de pé num canto, esperando o chá. Eu poderia tentar trombar com ele, ou dar um sorriso. Mas em vez disso andei até a copa e sentei-me numa das longas mesas próximas a uma mulher com jeito de avó que comia numa tigela de Tupperware.

Eu havia dado minha primeira mordida no sanduíche de homus quando ouvi o barulho da cadeira. Levantei os olhos. O Óculos-Colado olhou de volta para mim. Ele sentou com seus braços sobre a mesa. Ele não tinha um sanduíche. Nem chá. Os óculos de aro fino estavam tortos em seu rosto. Ele era bonito da mesma forma que um herói num romance – ou seja, meio borrado. Foi sua mão que observei com detalhe – os longos dedos ossudos e marcas de caneta no polegar, como se ele tivesse passado muito tempo tomando notas.

Ele se inclinou mais perto. “Vamos sair daqui”, sussurrou.

Eu assenti. Essa reviravolta parecia predeterminada, e eu estava disposta a descobrir o que aconteceria em seguida. Nós caminhamos entre as mesas. Os outros não pareceram perceber que estávamos indo embora – talvez tenham assumido que éramos um casal. Óculos-Colado parou diante do sinal que dizia “Sapatos” e calçou o que pareciam ser chinelos elegantes cinza escuro. Eles pareceram mágicos para mim. Eu tentei me equilibrar com uma bota só, enquanto segurava um ataque de risos.

Finalmente nós fomos parar na rua, a cidade em erupção à nossa volta. Nós corríamos e dávamos risada. No glorioso mundo não-budista, os carros buzinavam e um homem gritava no celular.

Óculos-Colado andou mais devagar para que eu pudesse alcançá-lo. “Quem é você?”, eu perguntei, ainda dando risada.

Ele me disse que trabalhava meio período no porão de um museu. Ele odiava seu chefe. Tinha passado por uma terapia intensa no ano anterior.

“Quantas vezes por semana?”, perguntei.

“Quatro”.

Olhei de soslaio para ele e vi as canetas enfiadas no bolso de sua calça – não uma caneta, mas várias, todas juntas. Foi esse estranho detalhe que me fez perceber o quão louco ele poderia ser.

“Então o que o deixa feliz?”, perguntei, tentando persuadi-lo a ser adorável novamente.

Mas tudo o que ele fez foi dar de ombros.

“Difícil escolher?”, disse esperançosa.

“Sim”. Ele soava moroso. “Foi um ano ruim”. Ele parecia perder o vigor.

Nós havíamos agora parado na calçada, sem saber para onde iríamos. Eu notei seus sapatos. Tinha me enganado quanto a eles. Não eram chinelos mágicos – eram apenas um par de tênis comuns com cadarços cor de água suja.

“Deveríamos voltar”, eu disse.

“OK.”

E assim nos voltamos furtivamente para o centro de retiros.

Naquela noite depois do ensinamento final – sobre a certeza da morte – nós meditadores fizemos uma fila até o hall de entrada e nos aglomeramos na frente do armário de casacos. Óculos-Colado me alcançou quando eu estava com um braço enfiado na manga da minha parka. Antes que eu tivesse tempo, eu estava de pé na sua frente, agradecendo educadamente o que ele havia oferecido: um pedaço de folha de caderno e uma caneta de madrepérola. Eu sempre quis me apaixonar por um homem que tivesse uma caneta assim. Rabisquei um número de telefone para ele.

“Tchau”, eu disse, e então andei até em casa sob a luz da lua. Sentia-me muito bem. O número de telefone que eu havia dado a ele era falso. Era, eu pensei, o meu presente para nós dois – silêncio e liberdade.

E foi assim que eu aprendi a arte do Divórcio Vipassana.

*Pagan Kennedy mora em Somerville, Massachussetts. Ela é autora de dez livros

Tradução: Eloise De Vylder

12.11.10

Radioterapia - O que é? Efeitos Colaterais

A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da área irradiada.

As radiações ionizantes são eletromagnéticas ou corpusculares e carregam energia. Ao interagirem com os tecidos, dão origem a elétrons rápidos que ionizam o meio e criam efeitos químicos como a hidrólise da água e a ruptura das cadeias de ADN. A morte celular pode ocorrer então por variados mecanismos, desde a inativação de sistemas vitais para a célula até sua incapacidade de reprodução.

A resposta dos tecidos às radiações depende de diversos fatores, tais como a sensibilidade do tumor à radiação, sua localização e oxigenação, assim como a qualidade e a quantidade da radiação e o tempo total em que ela é administrada.

Para que o efeito biológico atinja maior número de células neoplásicas e a tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação a ser administrada é habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se usa a terapia externa.


Radiossensibilidade e radiocurabilidade

A velocidade da regressão tumoral representa o grau de sensibilidade que o tumor apresenta às radiações. Depende fundamentalmente da sua origem celular, do seu grau de diferenciação, da oxigenação e da forma clínica de apresentação. A maioria dos tumores radiossensíveis são radiocuráveis. Entretanto, alguns se disseminam independentemente do controle local; outros apresentam sensibilidade tão próxima à dos tecidos normais, que esta impede a aplicação da dose de erradicação. A curabilidade local só é atingida quando a dose de radiação aplicada é letal para todas as células tumorais, mas não ultrapassa a tolerância dos tecidos normais.


Indicações da radioterapia

Como a radioterapia é um método de tratamento local e/ou regional, pode ser indicada de forma exclusiva ou associada aos outros métodos terapêuticos. Em combinação com a cirurgia, poderá ser pré-, per- ou pós-operatória. Também pode ser indicada antes, durante ou logo após a quimioterapia.

A radioterapia pode ser radical (ou curativa), quando se busca a cura total do tumor; remissiva, quando o objetivo é apenas a redução tumoral; profilática, quando se trata a doença em fase subclínica, isto é, não há volume tumoral presente, mas possíveis células neoplásicas dispersas; paliativa, quando se busca a remissão de sintomas tais como dor intensa, sangramento e compressão de órgãos; e ablativa, quando se administra a radiação para suprimir a função de um órgão, como, por exemplo, o ovário, para se obter a castração actínica.

Fontes de energia e suas aplicações

São várias as fontes de energia utilizadas na radioterapia. Há aparelhos que geram radiação a partir da energia elétrica, liberando raios X e elétrons, ou a partir de fontes de isótopo radioativo, como, por exemplo, pastilhas de cobalto, as quais geram raios gama. Esses aparelhos são usados como fontes externas, mantendo distâncias da pele que variam de 1 centímetro a 1 metro (teleterapia). Estas técnicas constituem a radioterapia clínica e se prestam para tratamento de lesões superficiais, semiprofundas ou profundas, dependendo da qualidade da radiação gerada pelo equipamento.

Os isótopos radioativos (cobalto, césio, irídio etc.) ou sais de rádio são utilizados sob a forma de tubos, agulhas, fios, sementes ou placas e geram radiações, habitualmente gama, de diferentes energias, dependendo do elemento radioativo empregado. São aplicados, na maior parte das vezes, de forma intersticial ou intracavitária, constituindo-se na radioterapia cirúrgica, também conhecida por braquiterapia.

Abaixo, estão relacionadas as diversas fontes usadas na radioterapia e os seus tipos de radiação gerada, energias e métodos de aplicação.

Fonte Tipo de radiação Energia Método de aplicação

Contatoterapia Raios X (superficial) 10 - 60 kV Terapia superficial

Roentgenterapia Raios X (ortovoltagem) 100 - 300 kV Terapia semiprofunda

Unidade de cobalto Raios gama 1,25 MeV Teleterapia profunda

Acelerador linear Raios X de alta energia e elétrons* 1,5 - 40 MeV Teleterapia profunda

Isótopos radioativos Raios gama e/ou beta Variável conforme o isótopo utilizado Braquiterapia

Os feixes de elétrons, na dependência de sua energia, podem ser utilizados também na terapia superficial

As unidades internacionalmente utilizadas para medir as quantidades de radiação são o röentgen e o gray. O röentgen (R) é a unidade que mede o número de ionizações desencadeadas no ar ambiental pela passagem de uma certa quantidade de radiação. Já o gray expressa a dose de radiação absorvida por qualquer material ou tecido humano. Um gray (Gy) corresponde a 100 centigrays (cGy).

Efeitos adversos da radioterapia

Normalmente, os efeitos das radiações são bem tolerados, desde que sejam respeitados os princípios de dose total de tratamento e a aplicação fracionada.

Os efeitos colaterais podem ser classificados em imediatos e tardios.

Os efeitos imediatos são observados nos tecidos que apresentam maior capacidade proliferativa, como as gônadas, a epiderme, as mucosas dos tratos digestivo, urinário e genital, e a medula óssea. Eles ocorrem somente se estes tecidos estiverem incluídos no campo de irradiação e podem ser potencializados pela administração simultânea de quimioterápicos. Manifestam-se clinicamente por anovulação ou azoospermia, epitelites, mucosites e mielodepressão (leucopenia e plaquetopenia) e devem ser tratados sintomaticamente, pois geralmente são bem tolerados e reversíveis.

Os efeitos tardios são raros e ocorrem quando as doses de tolerância dos tecidos normais são ultrapassadas. Os efeitos tardios manifestam-se por atrofias e fibroses. As alterações de caráter genético e o desenvolvimento de outros tumores malignos são raramente observados.

Todos os tecidos podem ser afetados, em graus variados, pelas radiações. Normalmente, os efeitos se relacionam com a dose total absorvida e com o fracionamento utilizado. A cirurgia e a quimioterapia podem contribuir para o agravamento destes efeitos.

Fonte: Inca

10.11.10

Simpósio de Gerontologia debate a qualidade de vida da pessoa idosa - 10/11/2010 15:37

O trabalho realizado pela médica sanitarista Zilda Arns foi um dos destaques da abertura do 2º Simpósio Maringaense de Gerontologia. A solenidade ocorreu na manhã desta quarta-feira (10), no campus da Universidade Estadual de Maringá.

O Simpósio de Gerontologia é realizado de dois em dois anos, sendo que esta edição está sob a organização da Unati, a Universidade Aberta à Terceira Idade, da UEM, com apoio da Reitoria e das Pró-Reitorias de Pesquisa e Pós-Graduação, de Ensino e de Extensão e Cultura. As atividades seguem até sexta-feira, sempre colocando em debate temas relativos à qualidade de vida da pessoa idosa, à educação do idoso e ao processo de envelhecimento.

A pediatra Mariane Arns agradeceu a homenagem e pediu para que o exemplo de trabalho e de solidariedade da tia esteja sempre presente. Ela afirmou que a Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati), da UEM, está trabalhando pela valorização do idoso e pela construção de uma sociedade mais justa.

Participaram da mesa de abertura o reitor Júlio Santiago Prates Filho, o coordenador geral e a coordenadora pedagógica da Unati, Claudio Stieltjes e Regina Taam, o diretor do Sesc, Antônio Vieira, a professora Marli Lambi, que coordenou todo o projeto de criação da Unati.

DIREITOS HUMANOS - Para Stieltjes, a Unati vem se consolidando não apenas pelo seu papel pedagógico, mas também como um espaço de luta política em que o objetivo é melhorar as condições de vida e a defesa dos direitos humanos da pessoa idosa. “Na Unati, não pensamos de forma abstrata. Agimos”, pontuou.

Regina Taam lembrou que na edição de 2008 do Simpósio a Unati ainda estava em processo gestatório. “Naquela época, a Unati estava em processo de concepção e ainda não sabíamos se o sonho iria se concretizar”.

Prates Filho salientou que a Unati é um projeto bem sucedido e que os esforços necessários para a sua consolidação serão empreendidos. Lembrou que ela completou um ciclo dentro da UEM. “Temos nossa creche que cuida de crianças na primeira idade e que são filhos e filhas das servidoras. Temos o Colégio de Aplicação Pedagógica que oferece ensino médio e fundamental. Temos os cursos de graduação e de pós. Se não fosse a Unati, esse ciclo não estaria completo”, disse o reitor.

O professor da Universidade de São Paulo, Franklin Leopoldo e Silva, proferiu a palestra de abertura, intitulada A Duração da Vida na Filosofia. Silva discorreu sobre um dos maiores problemas filosóficos desde a antiguidade: a passagem do tempo, sua natureza e percepção.

Na programação de quinta-feira (11), a professora Solange Maria Teixeira, da Universidade Federal do Piauí, fala sobre “Envelhecimento e Trabalho no Tempo do Capital”. Será às 8h30, no anfiteatro do Bloco C-67. Em 2008, ela conquistou o Grande Prêmio Capes de Tese Celso Furtado, que outorga distinção às teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos reconhecidos pelo MEC.

O Simpósio também vai apresentar experiências de trabalho com a terceira idade, como o desenvolvido no Sesc, no Centro-Dia, Centro de Convivência e na própria Unati.

Outras informações sobre o evento pelo fone 3011-8995 ou 3011-5096, ou ainda no site www.uem.br/unati.

9.11.10

“Brasil necessita de cuidadores de idosos”, afirma pesquisadora da USP

Informações especializadas sobre as condições de vida do idoso são fundamentais para a elaboração de políticas públicas de proteção social a pessoas com 60 anos de idade ou mais. A pesquisadora Yeda Duarte, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), ressaltou nesta terça-feira (9) que "as pessoas idosas e suas necessidades não podem esperar". Ela participou do Seminário Internacional do BPC, organizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que discute proteção a idoso s e pessoas com deficiência.

Com base em estudo realizado pela Faculdade de Saúde Pública da USP, referente ao município de São Paulo, a professora avalia que o envelhecimento com maior dependência gera a necessidade de cuidadores de idosos no Brasil. Ela integra a equipe de pesquisadores que atuam no Projeto Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), que reúne, desde 2000, o perfil das condiç ões de vida do idoso e de suas necessidades.

Na avaliação de Yeda Duarte, é preciso pensar a necessidade de cuidadores de idosos como uma questão de saúde pública. "Precisamos desmistificar a ideia de que a família cuida do idoso. A família cuida do jeito que dá. E não é porque eles não querem, é porque não conseguem", disse. "Precisamos mudar o olhar do modo de atenção ao idoso", afirmou. Isso inclui a atenção às necessidades sociais, sanitárias, econômicas e afetivas dessa população, que equivale a 21 milhões de brasileiros, segundo Síntese de Indicadores Sociais do IBGE de 2009.

O seminário visa a avaliar os resultados e impactos do Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social (BPC) e debater sobre seus efeitos articulados a outras políticas de transferência de renda. O encontro reúne especialistas, estudiosos do País e exterior, além de gestores e técnicos da política de assistência social.

Na abertura do evento, na noite de ontem, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, destacou a relevância do tema que trouxe ao debate uma platéia qualificada. "As pessoas aqui presentes estão fazendo história na luta por um País de todos. O Brasil tem a capacidade de dar voz e vez a todos", enfatizou a ministra, que destacou a interlocução com outras áreas como fundamental para o avanço na gestão do BPC.

Previdência – O representante do Ministério da Previdência Social, Eduardo Pereira, mencionou que, no ano passado, 82% das pessoas com mais de 60 anos recebiam algum recurso da previdência ou da assistência social. Esse percentual equivale a 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, os índices d e proteção social no Brasil não são baixos. "Há a necessidade de o idoso ter uma renda fixa ao longo da velhice", acrescentou.

Para a integrante da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), Ana Sojo, o problema de financiamento da proteção social varia muito de país para país. "O Brasil tem uma carga tributária muito alta. O Chile, por exemplo, tem uma carga tributária baixa", comparou.

Destinado a idosos com 65 anos ou mais e a pessoas com deficiência, de qualquer idade, o BPC é coordenado pelo MDS e tem os valores repassados para os beneficiários pelo INSS. Atualmente, são mais de 3,3 milhões de pessoas atendidas, que estão distribuídas por todos os estados do País. O valor que elas recebem equivale a um salário mínimo mensal.

Para ter acesso ao benefício, a renda mensal bruta per capita da família do idoso ou da pessoa com deficiência deve ser inferior a um quarto do salário mínimo. A pessoa precisa comprovar que não possui condição de se manter financeiramente ou de ter o sustento provido pela família. Pessoas com deficiência têm de comprovar que estão incapacitadas para o trabalho e para a vida independente.

Avanços – Para o presidente do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), Carlos Ferrari, o BPC é uma demonstração clara do exercício do direito "que deve ser protegido contra discursos conservadores". A representante do Ministério da Educação, Cleonice de Pellegrini, acredita que o benefício vai além da transferência de renda, "como no caso do BPC Escola, que é uma ação de impacto que perpassa o sistema educacional".

Benedito Brunca, do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), reforça a parceria do órgão com o MDS e acredita que o avanço mais significativo do BPC em todas as suas mudanças até o momento foi o novo instrumental para avaliação de pessoa com deficiência que "amplia os horizontes". Melhorar a operacionalização do BPC para torná-lo menos burocrático: esta é a avaliação da presidente do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas), Ieda de Castro, sobre o benefício.

A presidente do Fórum Nacional de Secretários e Secretárias de Estado de Assistência Social (Fonsea), Eutália Barbosa Rodrigues, ressalta que o BPC é uma conquista histórica, resultante de lutas para garantia de direitos. "O Sistema Único de Assistência Social (Suas) trouxe avanços na proteção social brasileira. Reafirmamos a importância do debate para reflexão", afirmou. A abertura do Seminário Internacional do BPC contou ainda com a presença do senador Eduardo Suplicy; do presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Assistência Social, deputado federal Raimundo de Matos; da secretária nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Izabel Maior; e da presidente do Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos, Karla Cristina.

7.11.10

Doença de Parkinson

Dr. João Carlos Papaterra Limongi é médico neurologista, professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sendo aqui entrevistado pelo Dr. Drauzio Varella
 
DrauzioOs familiares notam que a pessoa está mais lenta do que era antes?
João Carlos Papaterra Limongi – São os familiares que percebem primeiro os sintomas. O tremor nem tanto, mas a lentidão ou pobreza dos movimentos é a família que nota antes. Às vezes, a pessoa está andando ou, no caso de um atleta, correndo e mexe mais um braço do que o outro, contrariando o movimento de balanço automático próprio dos braços durante a marcha. Como Parkinson é uma doença que começa geralmente em um lado do corpo e só depois passa para o outro, é comum familiares e amigos notarem que o paciente balança só um dos braços e deixa o outro imóvel durante a caminhada ou a corrida.
Drauzio Às vezes, ele dá um passo maior com uma perna do que dá com a outra.
João Carlos Papaterra Limongi – Isso também faz parte do quadro, mas à medida que o processo progride, os dois passos ficam igualmente pequenos. Essa marcha a pequenos passos, que os franceses gostavam de chamar "marche a petit pas", é uma característica da doença de Parkinson importante para o diagnóstico. Além disso, à medida que os passos vão ficando mais curtos e menores, o paciente curva a cabeça e o tronco e joga o corpo para a frente. Essa flexão excessiva acaba gerando deslocamento do centro de gravidade e desequilíbrio e as quedas são freqüentes por conta disso.
  • Principais sintomas
    DrauzioQuais são os sintomas que caracterizam a doença de Parkinson?
    João Carlos Papaterra Limongi - Os sintomas da doença de Parkinson não são iguais em todos os pacientes. Em geral, no início, eles se apresentam de maneira lenta e insidiosa, quase tão imperceptível que fica difícil para o paciente, quando vai ao médico, precisar a época em que os sintomas se manisfestaram pela primeira vez.
    Entre todos, porém, o tremor é o sinal mais freqüente e que mais chama a atenção de pacientes e familiares. O curioso é que, embora seja o mais evidente, é o menos incapacitante. Às vezes, examinando uma pessoa com tremor intenso, verificamos que ela ainda é capaz de fazer muitas coisas na vida.
    O tremor da doença de Parkinson tem certas características. É o tremor de repouso que aparece, por exemplo, quando o paciente está com os braços parados, lendo jornal, e pode desaparecer rapidamente quando realiza um movimento voluntário qualquer.
    Drauzio Quer dizer que o tremor aparece quando a pessoa está quieta e distraída e desaparece quando ela faz um movimento ou executa um trabalho?
    João Carlos Papaterra Limongi – É isso mesmo, mas o tremor volta assim que ela termina o trabalho. É interessante notar que certos pacientes apresentam tremor nas mãos enquanto estão conversando conosco. Se lhe pedimos, porém, que tomem nota de alguma coisa, param de tremer, pegam lentamente a caneta e escrevem, às vezes, com letra um pouco tremida, mas escrevem. No entanto, finda essa atividade motora, o tremor retorna.
  • Alterações na caligrafia
    Drauzio Como fica a letra do doente com Parkinson?
    João Carlos Papaterra Limongi – A micrografia, ou seja, a redução do volume da letra, do tamanho da caligrafia, é um dos principais sintomas da doença de Parkinson. Em certos casos, os pacientes têm problemas com o banco que não aceita mais seus cheques, porque estranha a assinatura e eles precisam explicar que estão doentes e registrar nova assinatura para terem os cheques regularmente compensados.
    DrauzioO intrigante é que o paciente sabe que está escrevendo com letra pequena. Por que não consegue escrever com letra maior?
    João Carlos Papaterra Limongi – Assim como os passos que ficam menores e a voz que se torna monótona, a micrografia decorre do segundo principal sintoma da doença de Parkinson, a acinesia. Essa palavra vem do grego e significa ausência, falta ou pobreza de movimentos físicos.
    Por um distúrbio bioquímico, no parkinsoniano alguns circuitos motores passam a trabalhar de forma mais lenta e não conseguem acompanhar o ritmo da pessoa normal. Pacientes com Parkinson perdem a amplitude do movimento, a extensão de cada gesto. Isso vale também para a escrita. O A maiúsculo, por exemplo, que deveria quase alcançar a linha de cima, chega só até a metade do caminho e volta para a linha de baixo.
  • Percepção dos sintomas
    DrauzioOs familiares notam que a pessoa está mais lenta do que era antes?
    João Carlos Papaterra Limongi – São os familiares que percebem primeiro os sintomas. O tremor nem tanto, mas a lentidão ou pobreza dos movimentos é a família que nota antes. Às vezes, a pessoa está andando ou, no caso de um atleta, correndo e mexe mais um braço do que o outro, contrariando o movimento de balanço automático próprio dos braços durante a marcha. Como Parkinson é uma doença que começa geralmente em um lado do corpo e só depois passa para o outro, é comum familiares e amigos notarem que o paciente balança só um dos braços e deixa o outro imóvel durante a caminhada ou a corrida.
    Drauzio Às vezes, ele dá um passo maior com uma perna do que dá com a outra.
    João Carlos Papaterra Limongi – Isso também faz parte do quadro, mas à medida que o processo progride, os dois passos ficam igualmente pequenos. Essa marcha a pequenos passos, que os franceses gostavam de chamar "marche a petit pas", é uma característica da doença de Parkinson importante para o diagnóstico. Além disso, à medida que os passos vão ficando mais curtos e menores, o paciente curva a cabeça e o tronco e joga o corpo para a frente. Essa flexão excessiva acaba gerando deslocamento do centro de gravidade e desequilíbrio e as quedas são freqüentes por conta disso.
  • Substância negra e produção de dopamina
    DrauzioO que está por trás da doença de Parkinson que provoca esse cortejo de sintomas, como tremores, lentidão de movimentos e micrografia, por exemplo?
    João Carlos Papaterra Limongi – Existem dentro do tronco encefálico, região posterior do cérebro, dois pequenos núcleos muito segmentados, do tamanho de um caroço de azeitona, chamados de substância negra. Há décadas se conhece essa substância, que contém muita melanina - o mesmo pigmento que escurece a pele - mas não se sabia direito qual era sua função.
    No começo do século XX, um cientista percebeu que, nos pacientes com Parkinson, a substância negra se encontrava atrófica. Ficava com pigmentação mais clara e esmaecida, pois perdia a cor natural, quase preta dada pela melanina. Pondo algumas dessas células no microscópio, pôde verificar que elas estavam passando por um processo de degeneração. Embora essa tenha sido a primeira observação científica sobre o mecanismo da doença de Parkinson, não se sabia ainda qual era a função dessas células. Foram necessários mais 40 anos para concluir que elas fabricam uma substância química que funciona como neurotransmissor, a dopamina.

    DrauzioQual a importância desse neurotransmissor, a dopamina, na doença de Parkinson?
    João Carlos Papaterra Limongi - Neurotransmissor é uma substância química responsável pela transmissão de sinais na cadeia de circuitos nervosos. A mensagem que cada célula passa para a seguinte depende de mecanismos neurotransmissores e de substâncias como a dopamina. A falta dessa substância nos parkinsonianos foi identificada por Arvid Carlsoon et al., que receberam o prêmio Nobel de Medicina em 2000. Essa descoberta deu início à fase bioquímica da doença de Parkinson.
    Recompondo os passos, então, no começo do século XX foi feita a constatação anatômica de que nos pacientes com Parkinson a substância negra estava comprometida por falta de dopamina. Quarenta anos depois, descobriu-se que dois pequenos núcleos, um de cada lado da parte posterior do cérebro, têm papel fundamental na manutenção do circuito motor subcortical que controla uma série de atividades automáticas, enquanto o circuito motor cortical controla as atividades conscientes. Por exemplo, se quero pegar um lápis que está em cima da mesa, mando uma ordem consciente e realizo o que desejo utilizando o circuito motor cortical. Se quero conversar enquanto caminho sem prestar atenção na mudança de passos, digitar um texto sem ter de procurar cada letra isoladamente, dirigir um automóvel sem pensar em cada pisada na embreagem ou troca de marcha, dependo dos circuitos motores subcorticais.
    No entanto, se faltar dopamina, a motricidade automática é interrompida e a pessoa tem grande dificuldade para realizar movimentos simultâneos. Não consegue andar e conversar ao mesmo tempo nem realizar um movimento com a mão direita e outro com a esquerda. Perdidos esses automatismos, para andar precisa pensar isoladamente em cada passo e, enquanto ocupa o cérebro com isso, não consegue fazer mais nada.
    Portanto, um dos resultados clínicos dessa alteração bioquímica cerebral é a perda da capacidade de realizar movimentos automáticos.
  • Faixa etária mais vulnerável
    Drauzio – Com que idade as pessoas costumam manifestar a doença?
    João Carlos Papaterra Limongi – Quanto maior a faixa etária, maior a incidência da doença de Parkinson. De acordo com as estatísticas, na grande maioria dos pacientes, ela surge a partir dos 55, 60 anos e sua prevalência aumenta aos 70, 75 anos. Se considerarmos a população de uma cidade grande, desde a infância até os idosos, veremos que existem de 150 a 200 doentes com Parkinson em cada 100 mil habitantes, ou seja, um em cada mil habitantes é portador da doença. No entanto, se estratificarmos as faixas etárias, a conclusão será que 80% dos casos ocorrem entre os 65 e 75 anos e que 10% deles aparecem antes dos 45 anos. Portanto, Parkinson não é uma doença exclusivamente dos velhos. Por outro lado, se lembrarmos que não só no nosso país, mas no mundo inteiro, as pessoas estão vivendo mais, é grande a probabilidade de aumentar a incidência dessa doença e de outras doenças degenerativas.
  • Opções de tratamento
    Drauzio Há alguma coisa que se possa fazer para evitar o aparecimento da doença de Parkinson?
    João Carlos Papaterra Limongi - Esse é um dos pontos mais polêmicos atualmente. Durante todo o transcorrer do estudo da doença de Parkinson se passou por várias fases. No começo do século XX, descobriu -se que a substância negra estava comprometida. Mais ou menos 50 anos depois, Arvid Carlsson constatou que isso se devia à perda das células dopaminérgicas e foi dada ênfase ao tratamento farmacológico. Se estava faltando dopamina, vamos encontrar um meio de repô-la, e a via oral mostrou-se mais eficaz do que as outras nesse sentido.
    Aí, surgiram alguns problemas técnicos. A dopamina por via oral não passa do estômago para a corrente sanguínea e, por via endovenosa, não atravessa a barreira endoencefálica, uma barreira que separa o sangue do líquor. A solução foi utilizar um precursor da dopamina, a levodopa ou L-Dopa, que consegue entrar no cérebro e transformar-se em dopamina.
    Repor a dopamina a partir de um precursor dessa substância representou um tratamento farmacológico que visava única e exclusivamente à neutralização dos sintomas, mas não interferia na evolução natural da doença. Isso revolucionou o tratamento da doença de Parkinson, mas não esclareceu o motivo pelo qual as células dopaminérgicas continuavam degenerando.
    Por conta disso, o tratamento convencional e sintomático não bastava, pois quanto mais as células degeneram, mais difícil fica a reposição medicamentosa da dopamina. Provam isso os pacientes que na fase inicial respondem muito bem ao tratamento, mas depois de cinco ou dez anos, apresentam alterações graves na resposta, ou seja, trocam os sintomas parkinsonianos pelos da síndrome de Coréia caracterizada por movimentos involuntários anormais. O problema é maior quando se pensa que a margem de manobra na prescrição do medicamento é muito estreita. Se diminuirmos um pouquinho a dose, o paciente fica acinético, imóvel; se aumentarmos um pouco, aparecem movimentos parasitas que atrapalham o quadro.
    Era necessário, então, encontrar um tratamento neuroprotetor que fizesse com que as células parassem de degenerar ou reduzisse a taxa de degeneração.
    Atualmente existem dezenas, senão centenas, de drogas que já foram ou estão sendo estudadas com efeito potencialmente neuroprotetor. Para que elas funcionem, precisam ser administradas no início da doença, porque não adianta tomar o medicamento numa fase tardia, quando praticamente todas as células foram destruídas.
    Como já mencionei, os primeiros sintomas da doença de Parkinson custam a aparecer. O início da doença é insidioso e, quando o paciente procura o médico, existem evidências de que pelo menos metade das células estão perdidas, pois é muito comum o cérebro compensar essa perda progressiva de dopamina por meio de outros mecanismos. Portanto, é muito importante identificar essa degeneração celular antes que os sintomas apareçam para tentar interromper o processo com a droga neuroprotetora. No entanto, embora existam centenas de candidatas a neuroprotetoras, nenhuma delas tem esse efeito cientificamente comprovado.
  • Evolução da doença
    DrauzioComo evolui a doença de Parkinson?
    João Carlos Papaterra Limongi – O início da doença é imperceptível, tanto que nem o paciente nem os familiares conseguem dizer exatamente quando ela começou. Em geral, aparece tremor leve e/ou uma perda do balanço de um dos braços durante a marcha. É importante destacar que, no começo, os sintomas não são simétricos. Quase sempre ocorrem num só lado do corpo e, com o decorrer dos meses, às vezes dos anos, atingem o outro lado.
    Há 30 anos, quando a levedopa não estava disponível, os médicos assistiam à inexorável progressão da doença. A cada ano, os sintomas se agravavam: o tremor e a rigidez muscular aumentavam, a postura ficava mais curvada, o tamanho dos passos diminuía, os hábitos intestinais se alteravam e crescia a dificuldade para realizar pequenas atividades diárias como cortar carne ou tomar banho. Nas fases mais avançadas, o comprometimento da postura era um sintoma muito incapacitante. A marcha ficava mais difícil e quedas ocorriam com freqüência. Na fase extrema, o paciente ficava restrito ao uso da cadeira de rodas.
    Atualmente, isso não mais acontece porque os pacientes são tratados e podem permanecer dez, quinze, vinte anos com a doença controlada, levando vida social ativa e alguns mantendo até a atividade profissional. Além disso, a sobrevida dos parkinsonianos aumentou muito e está se aproximando do índice de sobrevida das pessoas sem a doença.
  • Estilo de vida
    DrauzioQuanto ao estilo de vida, que recomendações você faz para o paciente que apresenta os sintomas iniciais?
    João Carlos Papaterra Limongi – Em geral, eles chegam muito preocupados com o futuro. Querem saber como estarão dali a dois ou três anos. Procuro tranqüilizá-los, porque a evolução nem sempre é ruim e, com o advento de novas drogas, o controle da doença é mais eficaz. Mesmo as complicações da levedopa podem ser contornadas com mais facilidade e segurança.
    A primeira recomendação é que levem vida o mais saudável possível. Devem continuar trabalhando se têm habilidade intelectual para isso, e fazer atividade física. Dependendo do caso, podem frequentar uma academia onde farão os exercícios com os outros alunos. Casos mais avançados, porém, são encaminhados para a fisioterapia porque exigem exercícios específicos.
    Manter o otimismo e a vontade de continuar levando vida normal ajuda muito a controlar a evolução dos sintomas.
    DrauzioExiste alguma restrição de dieta alimentar para os pacientes com Parkinson?
    João Carlos Papaterra Limongi – Não existe nada cientificamente comprovado de que qualquer restrição dietética faça bem a esses pacientes. Entretanto, é preciso tomar cuidado com a associação de alguns medicamentos e com a ingestão simultânea de alimentos altamente protéicos e levedopa, porque eles podem interferir na absorção dessa droga. Por isso, a medicação deve ser tomada pelo menos meia hora antes das refeições.
    DrauzioVocê disse que os pacientes chegam assustados, com medo do futuro. Quais são as principais dúvidas que têm?
    João Carlos Papaterra Limongi – A principal dúvida dos pacientes é a respeito da vida profissional. Eles percebem que sua letra não é mais a mesma, que estão chegando atrasados aos compromissos, pois levam meia hora para fazer o que faziam em cinco minutos e ainda necessitam de ajuda para vestir-se. Essa perda progressiva da independência, esse retardo na realização das atividades motoras muitas vezes acompanhado de um retardo do raciocínio acaba provocando baixa na auto-estima.
    Nos testes de habilidade mental, observa-se que muitas vezes o paciente demora tanto para responder uma pergunta que fazemos outra, imaginando que ele não sabe a resposta, mas depois de algum tempo ele responde corretamente a primeira pergunta. Essa lentidão de raciocínio, que se chama de bradipsiquismo ou bradifrenia, assim como a bradicinesia que é a lentidão de movimentos, também melhora muito com o tratamento.
  • Perspectivas otimistas de tratamento
    DrauzioVocê acha que no curto prazo surgirão drogas para um controle mais adequado da doença?
    João Carlos Papaterra Limongi – Do ponto de vista farmacológico para o controle dos sintomas, houve alguns avanços significativos. Conhecer melhor a maneira de administrar os remédios no início do tratamento é determinante para a evolução da doença no longo prazo.
    Existe a reposição pulsátil feita de forma meio aleatória. O paciente toma doses elevadas da droga com intervalos grandes de tempo entre uma e outra. Isso provoca picos dessas medicações na concentração plasmática que entram em desacordo com a maneira fisiológica, contínua, sem altos e baixos, de ativar tonicamente os circuitos nervosos. Por isso, a tendência atual é mimetizar a fisiologia. Doses mais baixas ajudam a transformar essa curva de sobe e desce numa linha mais plana simulando a estimulação dopaminérgica natural. Com isso se tem reduzido o número de complicações, entre elas, a presença de movimentos involuntários anormais.
    Outro aspecto importante diz respeito ao estudo dos tratamentos de neuroproteção. Até pouco tempo atrás, não tínhamos como impedir a degeneração progressiva das células dopaminérgicas. Simplesmente, repúnhamos a substância que estava faltando e íamos aumentando as doses conforme se fizesse necessário. A tendência atual é buscar uma maneira de interferir na evolução da doença, tentando entender melhor os mecanismos envolvidos na morte celular para bloqueá-los em algum ponto do processo. Embora várias drogas estejam sendo utilizadas com esse objetivo, nenhuma mostrou efeito convincente como agente neuroprotetor. No entanto, acredito que não estamos distantes de conseguir uma que realmente produza esse efeito.

2.11.10

DESIGUALDADES EM SAÚDE ENTRE IDOSOS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

I SIMPÓSIO DO INSTITUTO DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA JEM E VI

JORNADA GERONTOLÓGICA)] TEXTO 67



O envelhecimento populacional ocorre de maneira acelerada nos países em desenvolvimento, trazendo novos e importantes desafios. Estudos longitudinais de idosos permitem analisar as condições de vida e saúde nas várias coortes ao longo do tempo. Estudos de desigualdades de morbidade, acesso à
serviços e mortalidade são fundamentais para identificar necessidades de intervenção no sentido da
prevenção de mortes prematuras e melhoria das condições de saúde das pessoas idosas. O objetivo foi o e estudar as desigualdades em saúde entre idosos do Estudo Saúde, Bem -estar e Envelhecimento SABE), no qual foram entrevistados 2143 indivíduos com 60 anos ou mais no município de São Paulo em 2000 e deste, reentrevistados 1115 idosos em 2006. Foram analisadas as desigualdades em relação às condições de saúde e fatores socioeconômicos. Foram verificados ainda as desigualdades no uso de
serviços de saúde. O método estatístico utilizado foi o das taxas ajustadas, teste de associação corrigida
pelo desenho amostral de Rao Scott e modelos de regressão multivariada. Os individuos no pior extrato de renda e/ou de escolaridade utilizaram menos serviços, apresentaram piores condições de saúde e maior mortalidade. Foram encontrados 649 óbitos no período do estudo (22,9%). A probabilidade de óbitono período estudado foi maior quanto mais avançada a idade, entre idosos do sexo masculino (29,2%),
idosos sem escolaridade (32,0%), no menor quintil de renda (31,5%), com saúde referida como ruim
(41,6%), com mais de duas doenças crônicas referidas (28,5%), com três ou mais dificuldades nas Atividades Básicas de Vida Diária (62,1%), com baixo peso (34,3%), que sofreram alguma queda no
último ano (28,3%), que apresentam declínio cognitivo (46,9%) e que foram hospitalizados nos 4 meses anteriores à entrevista (34,2%). A determinação social na mortalidade de idosos traduz a iniqüidade do
viver e morrer. Nas mesmas condições de saúde identifica-se mortalidade precoce em função deprováveis necessidades não atendidas e dificuldades de acesso. O sistema de saúde universal brasileiro traduz uma política pública com foco na equidade mas, deve ter como alvo a melhoria do acesso ao cuidado integrado
 às condições crônicas e a identificação precoce da fragilidade e vulnerabilidade do idoso.

[I SIMPÓSIO DO INSTITUTO DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA JEM E VI


Marilia Cristina Prado Louvison - Louvison, MCP - FSP/USP

> Yeda Aparecida Oliveria Duarte - Duarte, YAO - EE/USP

> Jair Licio Ferreira Santos - Santos, JL - FMRP/USP

> Maria Lucia Lebrão - Lebrão, ML - FSP/USP