Vínculos afetivos
Por Maria Fernanda Schardong
Um apoio nas horas difíceis, uma companhia para dar boas
risadas, uma companhia para uma viagem, um ouvido atento para partilhar
segredos, disposição para dividir experiências. O que diz o senso comum sobre o
bem que uma amizade faz tem também respaldo científico. Uma pesquisa realizada
em Chicago, nos Estados Unidos, diz que idosos solitários têm o dobro de
chances de desenvolver demências em relação aos que mantêm um bom círculo de
amizades. O estudo americano também serve de alerta para uma doença que vem
crescendo entre a população idosa: a depressão.
A pesquisa foi realizada pela Rush University Alzheimer´s
Disease Center, em Chicago, e acompanhou cerca de 800 pessoas com idade média
de 80 anos durante quatros anos de pesquisa. No início do estudo, nenhum dos
participantes apresentava sinais de demência, entretanto, alguns se descreveram
como pessoas solitárias e obtiveram resultado positivo em um teste feito para
medir o nível de solidão.
Durante o estudo, 76 participantes desenvolveram o mal de Alzheimer e aqueles
com maiores pontuações na escala de solidão tinham mais que o dobro de chances
de desenvolver demências do que os integrantes com mais ligações sociais e que
marcaram menos pontos na escala.
A pesquisa americana pode ser mais um alerta para uma das
doenças que vem tomando proporções cada vez maiores entre os idosos, a
depressão. De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), 20% das pessoas
com mais de 60 anos sofrem de alguns sintomas de depressão.
Segundo a neurologista e membro da Academia Brasileira de
Neurologia (ABN) Sônia Brucki, a depressão é um importante fator de risco para
o comprometimento das funções cognitivas e até mesmo a demência. “O sentimento
de solidão pode estar diretamente relacionado à depressão. Além disso, pode
estar relacionada a um isolamento voluntário da pessoa, podendo ser outro sinal
de comprometimento cognitivo. Sem contar que, na solidão, o indivíduo tem pouca
socialização, o que diminui a estimulação cerebral”, explica ela.
A interação social tem papel fundamental na preservação das
funções cognitivas, principalmente para os idosos. Uma simples ida ao cinema
com os amigos permite a estimulação cerebral. “No convívio social temos espaço
para o aumento dos estímulos externos, como a discussão de ideias, o que
possibilita a comunicação e a interação entre as pessoas. Essa troca de
informações e conhecimento permite uma grande estimulação cerebral e,
consequentemente, preserva as funções cognitivas”, afirma a neurologista.
Equilibrar os aspectos emocional e físico pode garantir mais qualidade de vida.
Manter boas relações sociais, praticar atividades físicas e mentais são
atirudes que podem permitir ao idoso um envelhecimento saudável, livre de
demências. “A discussão de pontos de vista, seja sobre artigos em revistas,
jornais ou sobre novelas, por exemplo, afasta o indivíduo do isolamento, além
de minimizar quadros depressivos. De fato, as pessoas necessitam de equilíbrio,
seja emocional, seja físico. Todos os esforços devem ser feitos para a
manutenção de uma vida saudável e equilibrada, mantendo uma atividade física e
mental regular”, aconselha Brucki.