Alzheimer afeta 40% dos idosos acima dos 80 anos
Os números são alarmantes, pois apontam que quase 40% da
população idosa, acima dos 80 anos, é acometida pelo Mal de Alzheimer, segundo
a Dra. Cybelle Diniz, geriatra da Unifesp e colaboradora da Associação
Brasileira de Alzheimer (ABRAz). No entanto, de acordo com a especialista, a
estatística não reflete a quantidade de pessoas em tratamento, uma vez que o
diagnóstico é ignorado ou mesmo confundido com outras patologias. Assim, com a
finalidade de discutir o tema e alertar a população é lembrado amanhã, 21 de
setembro, o Dia Mundial de Alzheimer.
Embora seja conhecido que a doença é de característica
neurológica degenerativa, em que proteínas anormais se acumulam levando à perda
de neurônios, a medicina ainda não encontrou meios de parar ou reverter o processo
de Alzheimer. Sem cura, especialistas utilizam medicamentos – que repõem
algumas substâncias que os neurônios mortos deveriam construir – para aliviar
os sintomas e contribuir, assim, para melhorar o bem-estar daqueles que sofrem
com a doença. Para a geriatra “até o momento, contudo, nenhum medicamento impede que
a doença progrida”.
A partir dos 60 anos, o indivíduo se torna suscetível à
doença, mas o pico de incidência ocorre aos 80 anos, de acordo com a Dra.
Cybelle, que aponta o esquecimento como o principal sintoma da doença. “E não se
trata daquele esquecimento pontual, mas o frequente, em que o indivíduo
apresenta dificuldade de memória, apagando com facilidade um fato de sua
mente”, alerta.
1° fase – Perda de memória de curto prazo, com dificuldade
em lembrar fatos ocorridos recentemente. O paciente apresenta alteração na
capacidade de se concentrar e agilidade do pensamento, sobretudo o abstrato; e
da memória autobiográfica, pois ele esquece o que fez no domingo, por exemplo;
além de certa desorientação de tempo e espaço. A pessoa também não sabe onde
está e tampouco em que ano, mês ou dia. A apatia é outro sintoma bastante comum
nesta fase.
2° fase – Com o passar dos anos, conforme os neurônios
morrem e a quantidade de neurotransmissores diminui devido a evolução da
doença, aumentam a dificuldade em reconhecer e identificar objetos e a execução
de movimentos. A memória é afetada de modo diferente, pois as mais antigas, a
memória semântica (de fatos acontecidos no mundo e história geral, significado
das palavras e coisas) e a memória implícita (memória de como fazer as coisas)
não são tão afetadas como a memória de curto prazo (recente) e a memória
autobiográfica. Surgem problemas de linguagem, como a diminuição do vocabulário
e a dificuldade para falar; e o paciente passa a ter dificuldade para fazer
tarefas simples do dia a dia, como escrever, vestir-se e lembrar de tomar a
medicação.
3° fase – A dificuldade na fala torna-se evidente devido à
impossibilidade de se lembrar de vocabulário. O paciente vai perdendo a
capacidade de ler e de escrever e deixa de fazer as mais simples tarefas
diárias. Os problemas de memória pioram e o indivíduo pode deixar de reconhecer
os seus parentes e conhecidos, o que representa uma progressiva incapacidade
para o trabalho e convívio social. A memória de longo prazo vai se perdendo e
alterações de comportamento podem se agravar. As manifestações mais comuns são
a apatia, irritabilidade e instabilidade emocional, chegando ao choro, ataques
inesperados de agressividade ou resistência ao cuidado. Incontinência urinária
pode aparecer. O paciente pergunta a mesma coisa centenas de vezes, mostrando
sua incapacidade de fixar algo novo. Palavras são esquecidas e frases são
truncadas, permanecendo sem finalização, muitas vezes.
4° fase – O paciente está completamente dependente das
pessoas que tomam conta dele. A linguagem está reduzida a frases simples ou até
palavras isoladas, levando, eventualmente, a perda da fala. Apesar do prejuízo
da linguagem verbal, os pacientes podem compreender e responder com sinais
emocionais. No entanto, a agressividade ainda pode estar presente e a apatia
extrema e o cansaço são resultados bastante comuns. Há dificuldade para
desempenhar as tarefas mais simples sem ajuda, tal como levar o copo à boca.
Apoio familiar
Mediante este cenário, a família tem papel preponderante na
vida do portador da doença, que se torna cada dia mais dependente das pessoas
que o cercam. “A família precisa entender que o ambiente deve ser tranquilo,
harmonioso ao paciente. A falta de rotina e um ambiente estressado e com brigas
é complicado”, reforça a Dra. Cybelle Diniz. Ainda de acordo com a geriatra, o
cuidador familiar, nome dado à pessoa responsável pelo paciente, precisa cuidar
da própria saúde, pois tem grande chance de adquirir depressão e demais doenças
por conta do desgaste a que estão sujeitos. Além disso, devem buscar informação
de qualidade e procurar a boa convivência com os portadores da doença,
incentivada por grupos de apoio em que a troca de experiências entre os
cuidadores facilitam compreender melhor o Alzheimer e lidar com os portadores
de maneira saudável.
A especialista também reforça o fato de que a medicação para
o tratamento inicial está disponível na rede pública, assim como as fraldas
geriátricas são vendidas nas farmácias populares a um preço acessível, e que,
buscar apoio e informação, e recorrer a uma assistência social para ajuda
domiciliar são ações que podem facilitar a vida dos pacientes e daqueles que
também vivem a doença.
Cenário atual
75% dos portadores da doença de Alzheimer (DA) não foram
diagnosticados, segundo relatório divulgado este mês de setembro pelo ADI
(Alzheimers Disease International), ligado à Organização Mundial da Saúde. O
estudo foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria do Kings
College, em Londres.
Para o ADI, que reúne 76 associações dedicadas à doença, 36
milhões de indivíduos no mundo convivem com o Alzheimer, sendo que três quartos
desconhecem a doença, de acordo com o relatório, que mostra ainda que nos
países mais ricos, 20% a 50% dos casos são reconhecidos e documentados,
enquanto que nos mais pobres, a proporção pode chegar a apenas 10%. Os
cientistas responsáveis pelo estudo acreditam que cada país precisa de uma
estratégia nacional que promova o diagnóstico antecipado e um cuidado contínuo
posterior, com o lema “gastar agora para economizar mais tarde”.
A pesquisa também demonstra que as intervenções podem fazer
diferença até mesmo nas etapas iniciais da doença, melhorando a cognição,
independência e qualidade de vida.
Fonte: Saúde em Pauta Online.