Musicoterapia e convívio com cães são estímulo para a memória
Cleber Augusto
Perda de memória, desatenção, alterações no humor, dependência de amigos e familiares, perda de concentração e de funções motoras são alguns dos sintomas que atingem pacientes vítimas do mal de Alzheimer, doença degenerativa que geralmente ocorre em pessoas com mais de 65 anos de idade. O diagnóstico ainda é difícil de ser realizado, pois os sintomas são confundidos com o envelhecimento natural, mas médicos e pesquisadores alertam para a importância de se realizar o diagnóstico precoce e iniciar o tratamento durante o primeiro estágio da doença.
O geriatra Fabri Lakhdari, que atende pacientes com mal de Alzheimer no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), lembra que a doença é constantemente confundida com sintomas do envelhecimento, e ressalta a importância do tratamento em estágio inicial.
difícil diagnóstico
“É uma doença que se inicia com sintomas de perda de memória e, em um segundo momento, afeta outras funções intelectuais, comprometendo a capacidade de autonomia da pessoa”, explica Lakhdari. Segundo ele, a doença é de difícil diagnóstico porque as pessoas atribuem os constantes esquecimentos aos sintomas do envelhecimento, e não procuram hospitais.
“Desta forma a doença progride e, em fase avançada, acaba por comprometer a capacidade de autonomia dos pacientes, que podem apresentar, além dos sintomas de esquecimento, dificuldades em gerenciar a própria vida financeira, tomar medicamentos, utilizar meios de transporte sem auxílio e realizar outras atividades diárias, como cozinhar, costurar, lavar roupas”, observa Lakhdari.
A doença pode comprometer também o convívio social e a auto-estima dos idosos. “A pessoa pode apresentar dificuldades em relação à linguagem, e perder a capacidade de reconhecer pessoas, objetos e até mesmo familiares”, lembra o geriatra, reiterando a importância do tratamento médico. “É muito importante que o tratamento se inicie o mais rápido possível, pois os medicamentos conseguem frear a evolução da doença.”
ATIVIDADES SOCIAIS
Além dos medicamentos, atividades físicas, de convívio social e de exercício da memória são extremamente importantes para as pessoas que desenvolvem Alzheimer. A aluna de psicologia e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Luciana Teixeira Guimarães, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), realizou recentemente um estudo sobre os benefícios da terapia assistida com animais em idosos com diagnóstico da doença de Alzheimer.
Segundo a pesquisadora, a terapia com animais sensibiliza o tato e o contato dos idosos, além de exercitar habilidades cognitivas, como a memória afetiva.
“Realizamos terapias e atividades com animais através do projeto Cão do Idoso, e os benefícios percebidos estão relacionais à melhora da memória afetiva e da auto-estima dos idosos, que se arrumavam bastante para o encontro com os animais e após as atividades conseguiam se lembrar do nome dos cachorros. Além disso, os idosos começaram a interagir e a se comunicar mais, facilitando a ressocialização dessas pessoas”, relata a pesquisadora.
“O tratamento visa a melhorar a qualidade de vida do idoso e maximizar o seu desempenho funcional, porque a área da memória fica comprometida. Existe o tratamento farmacológico, com terapêutica específica, com o objetivo de rever o processo patológico, morte neurológica e demência, e também os tratamentos alternativos, que ajudam na preservação da memória e na melhora da auto-estima e do convívio social”, afirma Isabel Borges, enfermeira da Unidade Mista de Taguatinga (Policlínica).
Segundo ela, o maior fator de risco para o Alzheimer é a idade, além da pré-disposição genética, e pessoas acima de 65 anos devem procurar atendimento médico a partir do momento que ocorrer alguma alteração cognitiva que altere as capacidades de realizar atividades normais. “Além do tratamento medicamentoso, nós realizamos as terapias alternativas, com o desenvolvimento de oficinas para o estímulo da memória, atividades em grupo, resgate da auto-estima através de pintura e outras atividades de convívio social, tudo isso faz parte do tratamento.”
Para o geriatra Fabri Lakhdari, a terapia ocupacional é bastante recomendada nesses casos, e faz parte do tratamento do paciente. “A musicoterapia, por exemplo, pode reduzir o uso de calmantes, diminuindo a incidência de efeitos colaterais e atividades em grupo ou com a presença de animais, melhorando diversos aspectos emocionais do paciente, mas ainda é difícil de ser implementada em hospitais porque essas instituições não estão preparadas para desenvolver certas atividades”, ressalta.
Dois centros são referência para pacientes
No Distrito Federal há dois centros de tratamento que são referência para os pacientes que desenvolveram a doença: o Centro de Atendimento ao Idoso, que funciona no Hospital Universitário de Brasília (HUB), da Universidade de Brasília (UnB); e o Programa do Idoso, que funciona na Unidade Mista de Taguatinga, antiga Policlínica. Segundo a coordenadora do Programa do Adulto e do Idoso da Secretaria de Saúde do DF, Elenice Alves, não existem hoje ambulatórios exclusivos para pacientes com Alzheimer.
“Esses pacientes geralmente são atendidos em ambulatórios de outras especialidades médicas, como a geriatria, e o médico ou geriatra responsável realiza o diagnóstico e nos faz a solicitação dos medicamentos. A solicitação é registrada em nosso protocolo e a medicação é concedida ao paciente”, afirma, lembrando que atualmente não há nenhum programa específico para esses pacientes desenvolvido pela Secretaria de Saúde.
Atualmente, três medicamentos estão disponíveis no mercado, dois deles na farmácia de alto custo. Os remédios custam em média R$ 250 mensais, e podem ser utilizados por toda a vida, dependendo do estágio em que a doença se encontra.