27.1.11

Qualidade de vida em idosos que sofreram quedas: Revisão integrativa da literatura

0818/2010 - Qualidade de vida em idosos que sofreram quedas: Revisão integrativa da literatura

Quality of life in elderly that suffered falls: Integrative literature review

Adriana Cristina Nicolussi - Nicolussi, A.C. - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP

 Trabalho final da disciplina de Pós-Graduação “O processo de envelhecer – enfoque na intervenção na área da saúde”, ministrada em 2009 na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP) – Ribeirão Preto (SP), Brasil.

Adriana Cristina Nicolussi, Enfermeira, mestre e aluna de doutorado da EERP-USP e Enfermeira do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP-USP), e-mail: drinicolussi@ig.com.br ou drinicolussi@usp.br.

Jack Roberto Silva Fhon, Enfermeiro e aluno do mestrado da EERP-USP.

Claudia Aline Valente Santos, Terapeuta Ocupacional do Centro Integrado de Reabilitação do Hospital Estadual de Ribeirão Preto, aluna especial da EERP-USP.

Luciana Kusumota, Sueli Marques, Rosalina Aparecida Partezani Rodrigues, Enfermeiras, Professoras do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da EERP-USP, responsáveis pela disciplina.

Autoria

Nicolussi, A.C. participou da elaboração, análise dos dados, redação e análise crítica do artigo; Fhon, J.R.S. e Santos, C.A.V. participaram da elaboração, análise dos dados e redação do artigo; Kusumota, L.; Marques, S. e Rodrigues, R.A.P. participaram da revisão crítica do artigo.

Resumo

Foi realizada uma Revisão Integrativa da Literatura com o objetivo de avaliar o conhecimento científico produzido relacionado à qualidade de vida do idoso que sofreu quedas. Métodos: foram selecionados artigos publicados nas bases de dados LILACS, CINAHL e MEDLINE, com os seguintes descritores: qualidade de vida, idoso e acidentes por quedas, nos idiomas português, inglês e espanhol, entre 1999 e 2009. Resultados: nove artigos atenderam aos critérios de inclusão. Encontrou-se que as quedas são frequentes nos idosos, sendo que idosos com mais fatores de risco intrínsecos e que já caíram apresentaram mais medo e possuem mais chance de caírem novamente; e também relataram déficits nas funções física, mental/emocional, dor corporal e relacionados ao meio ambiente e que programas de prevenção de quedas podem melhorar a qualidade de vida do idoso com o tempo. Conclusão: evidenciou-se como lacunas no conhecimento: escassa produção científica nacional, principalmente de autores enfermeiros, e predomínio de estudos descritivos e com nível de evidência considerado fraco. Sugere-se a atuação dos profissionais de saúde em pesquisas de intervenções para prevenção de quedas as quais possam ser aplicadas na prática clínica que possibilitem melhorar a qualidade de vida dos idosos.

Descritores: qualidade de vida, idoso, acidentes por quedas, saúde do idoso, revisão.

Abstract

Objective: to conduct an Integrative Literature Review and to evaluate the produced scientific knowledge regarding quality of life of elderly that suffered falls. Methods: the articles were selected using the LILACS, CINAHL and MEDLINE databases, with the follow-up keywords: quality of life, aged and aged and over and accidental falls, published in Portuguese, English and Spanish, between 1999 and 2009. Results: nine articles accomplished the inclusion criteria. The falls were frequent for the elderly, the elderly with more intrinsic risk factors and those had falls were who that had more fear and had more chance to fall again, and they had deficits in physical, mental and emotional functions, pain and in relationship to environment and that falls preventions programs can improve the quality of life of the elderly over time. Conclusions: knowledge gaps were revealed by a low of national publications, mainly by nurse authors and the predominance of descriptive studies, with weak levels of evidence. We suggest that health professionals conduct interventions researches to falls prevention that can be used in the clinical practice in improving the quality of life of the elderly.

Keywords: quality of life, aged, accidental falls, health of the elderly, review.

Introdução

O crescente aumento da população idosa em todo o mundo, demonstrado nos estudos demográficos e epidemiológicos, evidencia para os órgãos governamentais e para a sociedade constantes desafios, principalmente, no que se refere à área da saúde e aos aspectos socioeconômicos, próprios do envelhecimento populacional. Há cerca de quatro décadas, este crescimento da população idosa tem sido observado particularmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, este fenômeno revela um crescimento exponencial, cuja projeção, para o ano de 2025, mostra que o número de indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos será de 32 milhões1-2.

Em decorrência de tal quadro, a queda, considerada um evento não intencional cujo resultado é a mudança de posição do indivíduo para um nível mais baixo em relação a sua posição inicial3, tem se tornado uma ocorrência frequente e um problema crescente com o processo de envelhecimento. Quanto mais frágil o idoso, maior a propensão à queda, caracterizando um fator importantíssimo de morbidade, institucionalização e mortalidade.

O risco de cair aumenta significativamente com o avançar da idade. A previsão é de que um terço dos idosos que vivem na comunidade cairá no prazo de um ano e, entre os institucionalizados, esta previsão aumenta para 50%. Ao cair, cerca de 5% dos idosos necessitam de hospitalização, principalmente por fratura de quadril, e, em cada três casos, um dos pacientes falece no prazo de um ano4.

O passo fundamental para a prevenção das quedas é o reconhecimento e a correção dos fatores de risco envolvidos na sua ocorrência, e estes se dividem em intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínsecos estão relacionados com as alterações fisiológicas do processo de envelhecimento, tais como: idade, presença de múltiplas doenças crônicas, polifarmácia, depressão, diminuição da cognição, redução da capacidade funcional, entre outras. Enquanto os fatores extrínsecos estão relacionados com o meio ambiente e, também, possuem papel importante nos episódios de quedas5-6.

As quedas podem acarretar fraturas e medo constante de cair, limitando progressivamente a participação dos idosos em atividades cotidianas. Quedas frequentes em idosos estão associadas à elevada morbidade e mortalidade7 e, como consequências comuns, observam-se os prejuízos nas capacidades funcionais e cognitivas, a institucionalização e o aumento de gastos para os serviços de saúde e sociais8.

Na perspectiva da saúde pública, há uma atenção crescente relacionada ao impacto das quedas e às morbidades associadas, em decorrência do aumento dos custos com os cuidados à saúde bem como a melhora da Qualidade de Vida (QV) dos idosos9. A medida da QV é importante para a avaliação dos efeitos do tratamento e do atendimento pelos serviços de saúde no bem-estar dos clientes. Medidas de QV foram desenvolvidas para entender os tipos de impacto que as intervenções de cuidados à saúde têm na vida dos clientes e o custo-efetividade das mesmas comparadas com outras intervenções de cuidados à saúde10.

Para a elaboração de políticas, ações e intervenções de cuidados à saúde que visem a melhorar a QV do idoso, é preciso compreender este termo e averiguar qual é o seu significado para os idosos.

Na saúde, existem duas vertentes quanto à conceituação de QV, uma genérica, elaborada pela Organização Mundial de Saúde (1995) na qual a “Qualidade de Vida é a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (p.1405)11, e a outra amplamente usada na literatura que estabelece relações mais diretas com enfermidades ou intervenções em saúde, a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) que pode ser definida como um ótimo nível de função mental, física, social e de papel desempenhado na vida, abrangendo relacionamentos, percepção de saúde, aptidões, nível de satisfação com a vida e sensação de bem-estar, e também relaciona as perspectivas futuras e satisfação do paciente com seu tratamento, seus resultados e estado de saúde12.

Quanto ao conhecimento dos idosos sobre QV, um estudo13 realizado com três grupos de idosos revelou que o primeiro grupo conceituou a QV fazendo associações a relacionamentos interpessoais, ao equilíbrio emocional e à boa saúde; o segundo grupo a associou aos hábitos saudáveis, ao lazer e aos bens materiais; e o terceiro grupo a relacionou à espiritualidade, ao trabalho, à retidão e caridade, ao conhecimento e aos ambientes favoráveis; ou seja, a QV está relacionada à incorporação de sua vida aos seus ideais.

Compreendendo a importância das consequências das quedas para os idosos, os conceitos de QV e a necessidade de implementar políticas e planejar ações de atenção ao idoso, este estudo se propõe a avaliar o conhecimento científico produzido, relacionado às quedas e à QV em idosos. A questão norteadora foi: “Qual é o conhecimento científico já produzido e relacionado à qualidade de vida dos idosos que sofreram quedas?”

Nessa perspectiva, considerando que os idosos podem apresentar a QV influenciada pelas quedas, o presente estudo teve como objetivo geral buscar e avaliar as evidências disponíveis na literatura sobre o conhecimento científico produzido relacionado à QV do idoso que sofreu queda. E, como objetivos específicos: caracterizar a produção científica segundo a metodologia adotada, os aspectos relacionados à QV apresentados pelo idoso que sofreu queda e identificar quais os instrumentos utilizados para avaliar a QV.
Métodos

Utilizou-se a Revisão Integrativa (RI) da Literatura, método de revisão específico que sumariza a literatura teórica ou empírica anterior para prover o entendimento compreensivo de um fenômeno particular ou problema relacionado à saúde14.

Esse método pode tornar os resultados de pesquisas mais acessíveis, reduzindo alguns obstáculos da utilização do conhecimento científico, pois possibilita ao leitor o acesso a diversas pesquisas realizadas, em um único estudo15.

Depois de estabelecida a questão norteadora, três bases de dados foram utilizadas como fonte de levantamento dos estudos: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) e Medical Literature Analysis and Retrieval System on-line (MEDLINE) e a combinação dos seguintes descritores: qualidade de vida (quality of life), idoso (aged and aged and over) e acidentes por quedas (accidental falls).

Os critérios de inclusão estabelecidos para a seleção dos artigos foram: artigos com resumos disponíveis relacionados à QV dos idosos (≥ 60 anos) que sofreram quedas, publicados nos idiomas português, espanhol e inglês, indexados nas bases de dados LILACS, CINAHL e MEDLINE, no período de janeiro de 1999 a outubro de 2009.

Os estudos foram examinados por um instrumento construído e validado16 que permitiu a identificação das publicações, sua caracterização quanto aos critérios de avaliação de QV e quanto à metodologia, considerando o delineamento de pesquisa dos artigos17-18 e o nível de evidência19 dos mesmos.

O levantamento dos estudos foi realizado em outubro de 2009, concomitantemente nas três bases de dados. No cruzamento dos descritores, foi encontrado um total de 118 artigos, dos quais 15 se repetiam entre as bases de dados, restando 103 estudos em que, após serem lidos os resumos e aplicados os critérios de inclusão, foram selecionados 24 para a leitura na íntegra. Após a leitura destes artigos, sete foram selecionados, e, posteriormente, foram incluídos outros dois artigos referenciados nos estudos por atenderem aos critérios de inclusão, totalizando nove artigos que compuseram a amostra desta RI.

A análise dos artigos ocorreu de forma descritiva, de acordo com o instrumento de coleta de dados16, permitindo avaliar as seguintes características de cada artigo: identificação da publicação, critérios de avaliação de QV e metodologia dos estudos. Para a construção das categorias, utilizou-se a técnica de análise temática20.
Resultados

Foram analisados nove artigos na íntegra, e, após a análise de conteúdo temática, os temas abordados foram divididos nas seguintes categorias: Impacto da queda na QV (três artigos), Impacto do medo da queda na QV (três artigos), Programa de prevenção de quedas e QV (dois artigos), Relação entre fatores intrínsecos para risco de quedas e quedas na QV (um artigo).

Em relação à caracterização dos estudos, quanto ao ano de publicação, em 2008, 2004 e 2003 foram publicados dois artigos em cada ano e nos anos de 2007, 2005 e 2000 um artigo cada. Quanto à formação profissional do autor principal, um artigo foi publicado por médico, um por enfermeiro, dois por fisioterapeutas e em cinco não foi possível identificar a categoria profissional dos autores. De acordo com a instituição de origem dos autores principais, oito artigos estão vinculados a universidades e um está vinculado a uma Fundação.

No que se refere ao idioma, sete publicações foram em inglês e duas em português. Com relação ao país-sede do estudo, dois foram desenvolvidos no Canadá, dois em Taiwan, outros dois no Brasil, um nos Estados Unidos, um na Austrália e um na Holanda. Quanto ao periódico de publicação, foram detectados nove periódicos diferentes, sendo cinco revistas específicas de gerontologia e/ou geriatria.

Quanto aos critérios de avaliação de QV, em três artigos, os autores apresentaram uma definição de QV e em seis não. Foram utilizados cinco instrumentos diferentes para mensurar a QV dos idosos nos estudos revisados (Quadro 1), sendo que em sete foi justificada a escolha dos mesmos e em dois não; quatro estudos referiram ter utilizado instrumentos validados para a população do estudo, e cinco não fizeram esta menção.

Os Quadros 2 e 3 apresentam as principais funções ou domínios afetados e a síntese do conhecimento, de acordo com as categorias temáticas dos estudos, os delineamentos de pesquisa e os níveis de evidência.

Discussão

Enquanto a expectativa de vida entre a população idosa tem aumentado devido às intervenções médicas e de saúde pública, estudos sobre a importância da QVRS nesta fase da vida também têm surgido21. As reduções do número de quedas e dos danos causados por elas, por meio de programas de prevenção, podem contribuir para melhorar a QV10.

Embora as pesquisas tenham crescido nos últimos anos, os resultados do presente estudo mostraram que apenas dois artigos foram publicados no Brasil, em português; e nenhum artigo foi encontrado no idioma espanhol. Quanto à autoria principal, apenas um dos estudos foi realizado por enfermeiro, revelando a necessidade destes profissionais investirem nessa área de pesquisa, na busca de subsídios para a assistência de enfermagem prestada aos idosos.

Com relação aos aspectos referentes à avaliação de QV, os resultados evidenciaram que somente três artigos utilizaram definições de QV, esta deficiência foi observada em outros estudos de revisão10,22.

De acordo com o delineamento de pesquisa e nível de evidência avaliado, houve predomínio de estudos descritivos, ou seja, seis artigos classificados com nível de evidência 6, considerado fraco; um estudo caso-controle, nível 4; e dois Ensaios Clínicos Randomizados Controlados (ECRC), nível 2, de delineamento experimental, considerados evidências fortes; contudo, o nível 2 de evidência na pesquisa em enfermagem ainda é restrito.

Quanto às categorias temáticas apresentadas no Quadro 2, na categoria Impacto da queda na QV, as quedas foram frequentes nos idosos e ocasionaram consequências negativas para sua QV. O estudo21 que avaliou a QV em idosos com fratura de quadril devido a quedas corroborou que as quedas interferem na QV dessa população e que planos de intervenção para alta hospitalar podem diminuir o tempo de internação, algumas consequências pós-alta hospitalar, a razão de readmissão hospitalar, a razão de sobrevivência, além de possibilitar melhora no desempenho das atividades da vida diária e melhores condições de QV para os mesmos.

Com relação à categoria Impacto do medo da queda na QV, foi evidenciado que os idosos com maior medo de quedas foram os que mais as sofreram e apresentaram piores escores para QV e assim, como nesta revisão, estudos7,23 mostraram que idosos que sofreram quedas anteriores relataram mais medo de quedas do que os que não caíram, e o estudo23 encontrou entre as mulheres na faixa etária de 60 a 69 anos maior medo de cair, aquelas que apresentaram de moderado a alto medo de cair relataram piores escores para funções física, social, funcional, dor corporal, vitalidade e saúde geral, e os homens com moderado grau de medo de cair apresentaram piores escores para funções social, funcional e saúde geral. Nesta revisão, os idosos com alto medo de cair relataram piores escores nas funções física, mental e dor corporal.

Quanto à categoria Programa de prevenção de quedas e QV, os grupos de idosos que tiveram quedas e realizaram exercícios apresentaram melhores resultados para QV do que os grupos que caíram e receberam orientações para prevenção de quedas como modificações comportamentais em relação ao ambiente e educacionais. Uma Revisão Sistemática (RS)10 avaliou Ensaios Clínicos Randomizados Controlados (ECRC) que envolveram intervenções para prevenção de quedas, como uma avaliação dos efeitos da QV dos idosos, e encontrou poucos estudos que usaram a QV com este objetivo, seis em 12 intervenções obtiveram resultados positivos e, destes, oito reportaram resultados relacionados às quedas, mas nem todos compararam a QV entre os que sofreram e os que não sofreram quedas. Nos dois estudos desta RI, um destes24 também está incluso na RS, eles realizaram esta comparação e encontraram a QV prejudicada para os idosos que sofreram quedas, mas com o decorrer do programa de intervenção para prevenção de quedas, a QV melhorou, sendo considerados resultados positivos.

Com relação à categoria Relação entre fatores intrínsecos para risco de quedas e quedas na QV, as idosas com osteoporose que sofreram quedas apresentaram a função emocional prejudicada. A osteoporose também foi comum em mulheres no estudo25, cuja avaliação de um programa de reabilitação para idosos com fratura de quadril evidenciou a função física prejudicada e medo de cair. A osteoporose também foi predominante no sexo feminino, e esta fragilidade das mulheres idosas teve maior incidência do medo de cair quando comparada com os homens23. A queda em idosos com idade acima de 85 anos foi preditiva para pior saúde física, emoções negativas e menos atividade física do que entre idosos com idade inferior a esta8.

Ressaltam-se, como limitações deste estudo, a delimitação dos idiomas português, espanhol e inglês, a utilização de apenas três bases de dados e a não inclusão de dissertações e teses que podem ter excluído estudos considerados importantes.

Conclusão

Este estudo possibilitou caracterizar a produção científica quanto aos aspectos metodológicos dos estudos sobre QV apresentada pelo idoso que sofreu queda. No total, nove artigos preencheram os critérios de inclusão e fizeram parte desta RI.

Com relação à categorização dos estudos, como lacunas no conhecimento, observou-se a escassez de estudos de intervenção que retratem evidências fortes, pois a maioria dos estudos encontrados foi descritiva, classificada como nível de evidência 6, considerada fraca. Detectou-se, também, baixa produção científica tanto no Brasil quanto na América Latina, sendo apenas dois estudos publicados no Brasil, em português; e com a participação do enfermeiro em apenas um estudo como autor principal, fazendo-se necessária uma reflexão sobre a temática, para que novas pesquisas sejam desenvolvidas e divulgadas.

Quanto aos aspectos relacionados à QV, apenas três estudos a definiram, quatro não mencionaram se utilizaram instrumentos validados para sua população e dois não justificaram suas escolhas; é importante a utilização de instrumentos validados para a confiabilidade dos resultados.

Quatro categorias temáticas foram estabelecidas, após a análise dos estudos: Impacto da queda na QV, Impacto do medo da queda na QV, Programa de prevenção de quedas e QV e Relação entre fatores intrínsecos para risco de queda e queda na QV e observou-se que: as quedas são frequentes nos idosos, sendo a maioria devido aos fatores intrínsecos; e aqueles idosos que já caíram têm mais medo e maior chance de cair novamente, eles apresentaram déficits em funções ou domínios da QV, tais como: funções física, emocional ou mental, dor corporal e relacionados ao meio ambiente, bem como programas de intervenção de quedas podem melhorar sua QV após a queda.

Portanto, de acordo com os resultados desta RI, sugere-se aos profissionais de saúde, inclusive o enfermeiro, maior atuação tanto na assistência quanto na produção de pesquisas direcionadas aos idosos, desenvolvendo estudos de intervenção para prevenção de quedas que possam ser aplicados na prática clínica e possibilitem melhorar a QV dos idosos.

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23.1.11

Análise do filme Colcha de retalhos

Por Ana Claudia Peixoto Leal, Insituto de Educação Superiror de Brasília


Título: Colcha de Retalhos
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 116 minutos
Ano de Lançamento: 1995
Elenco: Winona Rider, Anne Bancroft, Ellen Burstyn, Kate Nelligan entre outros.

Colcha de retalhos é um filme que conta a história da jovem Finn (Winona Rider), que se refugia na casa da avó para terminar de escrever uma tese, enquanto seu apartamento está sendo reformado. Confusa em relação à sua decisão de casar-se, a jovem Finn acaba participando da história de sete mulheres, mais velhas, com quem ela passa a conviver. Essas mulheres estão envolvidas na elaboração de uma colcha de retalhos, com a qual pretendem presenteá-la.

As mulheres que costuram junto essa colcha são amigas que se conhecem e se encontram há muitos anos. Muitas outras colchas já foram feitas, mas cada colcha é diferente da anterior; cada colcha tem sempre um tema diferente e a essa colcha, especificamente, elas dão o nome de “Onde mora o amor”. Ao longo do filme, enquanto bordam a colcha, cada uma das mulheres tem a oportunidade de contar um pouco sobre como viveram o amor em suas vidas. Ao relembrar suas histórias, cada uma delas também tem a oportunidade de integrar suas experiências pessoais.

O filme nos remete ao que Erik Erikson nos diz, sobre a necessidade que adultos mais velhos tem de avaliar, resumir e aceitar sua vida, para poderem aceitar a aproximação da morte (Papalia, 2006). Colcha de retalhos é um filme que permite ver esse processo acontecendo. Cada uma das personagens pode reviver momentos significativos de suas vidas, dividindo suas lembranças e experiências com uma mulher mais jovem que elas. No recontar, cada uma delas pode não apenas avaliar o que viveu, mas olhar suas experiências sob um outro ponto de vista.

As mulheres do filme moram todas na mesma cidade onde passaram sua juventude, onde casaram e onde criaram seus filhos. Uma delas, a mais jovem delas, com cerca de 50 anos, embora tenha viajado muito, está de volta à cidade onde nasceu, aparentemente se preparando para viver seus últimos anos. Berger (2003) descreve que a maioria das pessoas idosas prefere realmente “envelhecer no mesmo lugar”, permanecendo na mesma casa, sem nunca se mudar, descrevendo esse fato como uma característica da terceira idade, (ou idade adulta avançada). Por outro lado, essa tendência a continuar no lugar onde sempre viveram, faz com que muitos idosos acabem vivendo sozinhos, o que também pode ser observado durante o filme. Das sete mulheres, três moram sozinhas: uma é solteira, outra viúva e a outra, que foi abandonada pelo marido ainda jovem. Duas outras, irmãs, moram juntas após terem ambas ficado viúvas. Com elas mora Ana, que foi empregada da casa e sempre morou com a irmã mais velha delas. Apenas uma delas ainda vive com o marido.

O filme mostra as mulheres envolvidas na elaboração de um projeto comum. Aqui surge outro aspecto importante da terceira idade - pessoas idosas precisam continuar a manter alguma atividade, quer seja de cunho profissional, político, voluntário ou dentro do próprio lar (Berger, 2003). Quando a escolha recai sobre o lar, as pessoas idosas se mantêm ocupadas realizando outros tipos de trabalho que não aqueles domésticos necessários para manutenção da casa e que muitas vezes foram realizados por toda a vida. É o que acontece com essas mulheres, que se dedicam à costura e ao bordado, criando juntas, nos últimos anos de suas vidas, verdadeiras obras de arte.

Outro aspecto importante relacionado à terceira idade, diz respeito à importância e à qualidade da convivência social necessária nesse período. Nessa fase da vida, as pessoas têm alguns amigos de muitos anos, cultivados ao longo da vida, e a satisfação das pessoas idosas tem uma forte correlação com a quantidade e a qualidade do seu contato com os amigos, às vezes mais do que com a própria família. Para adultos mais velhos, a continuidade da rede social, com o passar do tempo, é uma afirmação importante. Amigos que “os conheciam quando...”, são especialmente importantes (Berger, 2003). Nesse filme, as mulheres fazem parte de um “clube de costura”, que se reúne regularmente para fazer seu trabalho, há mais de vinte anos. Fica clara a importância desses encontros e do quanto o convívio é importante para cada uma delas, que nunca faltam aos encontros. Observa-se um forte vínculo afetivo. Conhecem-se desde a juventude e conhecem as histórias umas das outras. São mulheres que percebem as diferenças entre si, mas que se respeitam e se mantém unidas.

O filme é generoso ao mostrar aspectos relacionados à terceira idade, mas não apenas isso. Ao relembrar suas vidas, temos a oportunidade de ver aquelas mulheres quando eram mais jovens e de ver o que se tornaram quando mais velhas, como resultado de escolhas feitas e das dificuldades enfrentadas. Para muitos idosos, por exemplo, o cônjuge pode ser a melhor proteção contra os problemas potenciais da velhice (Berger, 2003). Isso pode ser observado naquela mulher que ainda é casada com seu primeiro marido, embora o casamento tenha sido motivo de alguma frustração ao longo dos anos, em função da infidelidade conjugal dele. A personagem, mesmo depois de algumas tentativas de separação, mantem-se casada até o final do filme. Ao envelhecerem, podemos observar que conflitos se tornaram menos desagradáveis do que eram quando o casal era jovem. Apesar das diferenças, o casal passa a aceitar suas fragilidades mútuas, cuidando das necessidades um do outro da melhor maneira possível. Percebe-se entre eles, não apenas sentimentos de simples obrigação, mas de afeição.

Erikson dizia que a grande virtude que pode ser desenvolvida, na terceira idade é a sabedoria (Papalia, 2006), que significa a capacidade de aceitar a vida que se viveu, sem maiores arrependimentos. Assim, a realização suprema da terceira idade é o senso de integridade do ego, ou self, realização essa baseada na reflexão e na aceitação sobre a própria vida. As pessoas que não alcançam essa aceitação sucumbem ao desespero. Acho que foi especialmente isso que me chamou a atenção no final do filme. Ao ver aquelas mulheres tão serenas e dedicadas ao trabalho, bordando um pedaço de sua vida naquela colcha, podemos observar que no coração delas há aceitação e amor. Isso é muito significativo. Penso que é assim que todos nós queremos chegar à velhice. Juntando os “pedaços” de nossa vida, esperamos construir uma história da qual cada um de nós possa se orgulhar.

Referência Bibliográfica:

Berger, K.S. (2003). O desenvolvimento da pessoa: da infância à terceira idade. Rio de Janeiro: LTC.

Papalia, D.E.,Olds, S.W. & Feldman, R.D. (2006). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed.

21.1.11

III curso de especialização de nutrição em gerontologia - Instituto Central do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP

Instituto Central do Hospital das Clínicas



Encontram-se abertas as inscrições para o III curso de especialização de nutrição em gerontologia, a ser promovido pela Divisão de Nutrição e Dietética e pelo Serviço de Geriatria do Instituto Central do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo.

Com carga horária de 360 horas, as aulas acontecerão de 15 de março a 29 de novembro de 2012, duas vezes por semana, no horário das 18h00 às 20h30, nas dependências do Instituto Central do HC, à Av. Enéas de Carvalho Aguiar, 255, próxima à estação do Metrô Clínicas.

O objetivo dos organizadores é qualificar profissionais para atuar junto à pacientes idosos, com disfunções nutricionais em vários níveis de gravidade clínica, bem como enfatizar a promoção da saúde no envelhecimento.
 
As inscrições vão até o dia 04 de fevereiro. Mais informações pelo telefone: 3069.6332 ou e-mail: elci.fernandes@hotmail.com.

17.1.11

Depressão: Homens deixam de esconder ‘fraqueza’ emocional e estudos atuais questionam dados de que a doença atinge mais mulheres do que os representantes do sexo masculino

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Operador de ceifadeira Carlos, 38 anos, sentiu que algo não ia bem aos 21 anos. Passou a desmaiar e o diagnóstico foi de solitária no cérebro. O problema clínico desencadeou quadro depressivo em Carlos, que a partir de então passou a evitar a família, foi morar sozinho e perdeu o contato com amigos.

“Senti que minha vida tinha acabado. Uma tristeza imensa se abateu sobre mim.”

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) para cada homem com quadro depressivo, há duas mulheres.

Mas essa prevalência de sexo é questionada. Estudos sobre hereditariedade relativos à depressão, comandados pelo pesquisador americano Patrick Sulivan, mostram controvérsias quanto a diferenças devidas ao gênero, e há pelo menos uma revisão que não verificou distinções entre os sexos.

Há 4 anos, o operador de ceifadeira ateou fogo em si e sofreu queimaduras em 72% do corpo. Mais um motivo para a depressão se instalar de vez em Carlos. “As sequelas não me deixam mais trabalhar.”

A depressão chegou de mansinho para Pedro (os nomes são fictícios). Num dia, acordou desanimado e sem vontade de sair da cama. No outro, sentiu sensação de culpa e vontade de chorar sem motivos aparentes.

“A depressão era considerada uma fraqueza. Por isso, o tratamento era procurado mais por mulheres. O que percebemos é que a prevalência se equipara”, diz Maria das Graças Nahaes, assistente social do Hospital Bezerra de Menezes de Rio Preto.

População adulta sofre com problema mental

Cerca de 20% da população adulta têm problemas mentais graves: 4,5% sofre com depressão moderada, 1,5% depressão grave, 2% com transtorno bipolar, 2% com fobia social grave, 0,5% com esquizofrenia, 8% com alcoolismo e 1,5% com Transtorno Obsessivo Compulsivo grave.

Homens comentem mais suicídio no país

Entre as mulheres, a taxa oficial de suicídio é de 1,9. Já entre os homens é de 7,1 a cada 100 mil habitantes, mostra estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Evolução no tratamento da doença

Não é fácil falar abertamente sobre depressão, apesar de ser uma doença descrita há quase três mil anos. É que há um misto de desconhecimento e preconceito, principalmente quando o assunto é tratamento.

Segundo Frederico Navas Demétrio, psiquiatra do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), os medicamentos para o combate à depressão têm evoluído ao longo dos anos.

“Os antidepressivos da terceira geração, conhecidos como Duais, atuam no organismo de maneira mais eficaz, com diminuição dos efeitos colaterais”, diz.

Segundo ele, nas últimas duas décadas, os antidepressivos ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina), conhecidos como de segunda geração, foram os mais prescritos.

“Os ISRS mostram eficácia com menores índices de eventos adversos observados nos antidepressivos de primeira geração (chamados de tricíclios, responsáveis pelo baixo índice de adesão ao tratamento). No entanto, quando se compara os ISRS aos Duais, estes últimos conseguem um incremento na eficácia do tratamento por atuar também na noradrenalina, além da serotonina”, diz.

Atividades físicas

Além dos antidepressivos, o médico afirma que é importante a prática de atividades físicas, pois liberam endorfina (substância que causa sensação de alegria e bem-estar).
“Isso acontece porque o cérebro de um paciente com depressão apresenta alterações químicas que precisam ser equilibradas, principalmente no sistema nervoso que é responsável pelos níveis de humor, alegria, tristeza, energia e interesse”, afirma.
O psiquiatra diz que é preciso rever o modo como a sociedade lida com pessoas com depressão. “O preconceito só faz o quadro depressivo piorar, o que torna o tratamento mais difícil e demorado”, diz Frederico.

Diagnóstico

O psiquiatra Kalil Duailibi, coordenador da Universidade de Santo Amaro, em São Paulo, afirma que não tem como saber se o paciente tem depressão por meio de um exame específico.
Segundo o psiquiatra, mais do que admitir para si que está com depressão, o paciente tem dificuldades em se adaptar aos tratamentos que podem durar meses ou anos de terapia e medicamentos que, dependendo da composição, causam efeitos colaterais.

“O tratamento da depressão deve continuar até o desaparecimento dos sintomas. Caso contrário, pode haver recaídas do paciente. É importante ressaltar que não falamos em cura, mas em remissão da doença. Nada pode garantir que a pessoa não sofrerá com isso novamente”, diz o psiquiatra.

Idosos

O geriatra Paulo Renato Canineu, professor da PUC de São Paulo, lida com um paciente com tipo específico de depressão: a do idoso.

“A depressão na fase de envelhecimento vem acompanhada de outras doenças como diabetes, osteoporose, neoplasias, insuficiência coronária e outras. É preciso cuidado para a combinação de medicações não prejudicar o paciente”, afirma.

O geriatra diz que os idosos, inclusive da quarta idade (acima dos 85 anos), devem assumir o envelhecimento como realidade de vida, desmitificar o envelhecimento, começar ou dar continuidade a atividades na sociedade, na família e no trabalho. “Os idosos não devem deixar de fazer exercício, além de manter os sonhos e os objetivos”, diz.

O amor na maturidade por Filipe de Paiva

Namorar é bom mas não é fácil, reza o senso comum. É preciso ajustar aqui, aparar acolá, ponderar mais adiante, reconhecer se o par é o ideal. Se não, adiante. Para os jovens pode não ser tão complicado. Mas, em idades mais avançadas, a experiência acumulada é fonte quase certa de insegurança. De onde vem o medo e como acertar o passo na jornada por um novo amor? A resposta pode estar no equilíbrio do ego, defende especialista.
Às explicações iniciais: o ego é o “eu” de uma pessoa, seu ponto de vista único, diferente dos demais, e tem como vizinhos o id – a soma dos impulsos e desejos, sempre em busca do prazer imediato – e o superego, que avalia as questões morais, dialoga com o mundo externo e cuida para que as vontades não levem ao caos. Cabe ao ego tentar manter seus dois vizinhos satisfeitos e ainda tomar conta de si próprio. “A tarefa não é fácil! Daí as culpas, as incertezas, as reticências, as ponderações”, diz o psicólogo Guilherme Olivier, especialista em psicoterapia psicanalítica.
É preciso abraçar o ego e encorajá-lo a se expandir mais. Este processo amplia o autoconhecimento e dá mais autoconfiança. “O Ego é cheio de boas intenções”, defende Olivier. Um ego equilibrado pode preparar o terreno para o namoro após o fim de um relacionamento importante e será um grande atrativo para os pretendentes. Quem não se sente bem perto de uma pessoa que se conheça a fundo, saiba o que quer e goste de si mesma? Se o ego não está lá muito forte, aqui vão algumas dicas para usar todo o seu potencial sem perder o controle e torná-lo um aliado do amor.

Não existe nada de errado em alimentar o ego. O problema começa é se o ego estiver inflado – o que pode ser relacionado a atitudes ruins. “Aquelas pessoas que ‘se acham’, que olham o semelhante por cima e, quiçá, nem o consideram”, diz Olivier. Daí a importância de manter o ego equilibrado e buscar reconhecer os limites que existem, por exemplo, entre a autoconfiança e a prepotência. “Este ‘ego inflado’ na realidade padece da pobreza de não ver que, no mundo, ele está com os outros e que nem sempre as suas necessidades serão prontamente atendidas”, explica o psicólogo.

Se o ser humano fosse uma empresa, o ego seria seu presidente. Ele pode ser um verdadeiro guerreiro protegendo as entradas do corpo, da mente e do coração, influenciando nas decisões que são tomadas. Mas quando ele é agredido, como depois do fim de um relacionamento, ele pode se transformar em um vigarista astuto e destrutivo. Se as decisões tomadas são muito extremas, é preciso fazer uns ajustes no presidente da empresa, ou ela pode acabar falindo. Segundo Olivier, o ego pode se tornar um vilão quando passa a intermediar o id e o superego ferido, temeroso e cheio de suspeitas – seja com ele mesmo, seja com os outros.
O ego também funciona como o administrador das finanças da empresa. Ele julga ganhos como coisas boas e perdas como coisas ruins. Mas a natureza não distingue e fez a vida cheia de conquistas e decepções. Para lidar bem com isto, uma ótima estratégia é tentar ver sempre os dois lados de cada situação, julgando o menos possível. “Isto não é fácil, é coisa de gente grande”, brinca Olivier. Este exercício ensina a aceitar o que a vida dá e o que ela tira, preparando para os altos e baixos dos relacionamentos que estão por vir.

Egocentrismo não faz bem a ninguém. Quando o ego está em equilíbrio, as expectativas que se tem para um relacionamento e as formas de expressá-las são saudáveis. Mas mania de controlar tudo que está ao redor e achar que se está sempre certo podem destruir uma relação – ou simplesmente impedir o começo de uma nova. Neste caso, é bom pisar no freio do ego e trabalhar para que ele se acalme e se controle. “Perceber que estamos no mundo e que nele devemos fazer história, independentemente da idade, é o melhor controle para o egocentrismo”, ressalta Olivier.

A confiança está diretamente ligada ao ego. “É fundamental ao ego que ele possa confiar em si e, obviamente, nos outros”, diz o psicólogo. Insistir em dar muito valor às próprias opiniões e menosprezar as alheias pode tornar a confiança – essencial para qualquer relacionamento – difícil de ser construída. Quanto mais se praticar a humildade, mais saudável será o ego. Assim confiar fica mais fácil e a porta do amor se abre.
Além dos limites impostos pelo id e pelo superego, o ego precisa ser contido pela própria pessoa. Sem uma barreira psicológica uma pessoa é facilmente absorvida pela definição que os outros têm dela, prejudicando sua própria visão de si mesma. Entender o ego fortalece a capacidade de compreender os próprios sentimentos e os alheios. Revelar estes sentimentos não apenas ajudam na auto definição como também dão apoio para descobrir que há pouco – ou nada – a temer no processo de se estudar e analisar. “Esta é a importância de limitar o ego e deixá-lo em harmonia com os outros egos que estão por aí”, explica Olivier. E nada melhor para harmonizar os egos que um bom diálogo com o parceiro.

Conflitos podem colocar o ego em perspectiva. Parece estranho, mas um conflito pode ser a chave para uma intimidade mais forte. “Como conciliar o que queremos com as interdições que são da vida? A maturidade é brilhante porque ela compreendeu bem este diálogo... Eis a sabedoria”, exalta Olivier. Conflitos criam, sim, dor e desconforto, mas deixar levar o ego a lutar contra estes sentimentos ruins ajudará a fortalecer a aproximação, dando maiores chances de sucesso à relação. “O que faz bem a um relacionamento é que um ego possa dialogar com o outro”, defende o psicólogo. Quem diz que o diálogo é a chave de qualquer relação sabe do que está falando.
Autor: Filipe de Paiva
Fonte: Maisde50