16.8.10

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Plantas que curam... e que matam

Quatro em cada dez americanos recorrem a algum tipo de terapia alternativa para cuidar da saúde. Um dos recursos mais procurados são os fitoterápicos, em forma de cápsulas ou chás. A informação faz parte de uma pesquisa divulgada pelo Centro Nacional de Medicina Complementar e Alternativa (NCCAM). Esse é um órgão do governo americano que pretende regulamentar o setor e submeter as terapias a estudos científicos.

É um esforço para lançar luzes numa área cheia de crenças infundadas. E também para comprovar e reconhecer os benefícios de práticas tradicionais que podem melhorar a qualidade de vida da população. Vinte e oito prestigiadas universidades, como Harvard, Columbia e Duke, participam dessa iniciativa.

Até recentemente, o casamento entre os tratamentos convencionais e as terapias alternativas parecia impossível. Havia radicais dos dois lados. O que se vê hoje nos Estados Unidos é uma tentativa de harmonizar as duas áreas. Esse esforço deu origem a um novo campo que tem sido chamado de medicina integrativa.

Há um movimento semelhante no Brasil - ainda que menos organizado. Não se sabe, por exemplo, quantos brasileiros consomem chazinhos e outras formas de fitoterapia ao mesmo tempo em que se tratam com medicamentos alopáticos. Não estranharia se uma pesquisa demonstrasse que mais da metade da população faz isso.

Temos no Brasil o costume de achar que tudo o que é natural é necessariamente benéfico. Sobre o hábito de tomar chazinhos da vovó para enfrentar os mais diversos incômodos, há um ditado bastante conhecido: “Se não fizer bem, mal não faz”.

Essa ideia está arraigada na cultura nacional, mas é totalmente equivocada.“É um erro pensar dessa forma. A natureza tem venenos poderosos”, diz o pesquisador João Ernesto de Carvalho, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele é especialista em Farmacologia e Toxicologia.Carvalho faz um importante alerta: “Quase 100% das escolas médicas não tem a disciplina de fitoterapia”, diz. “Os médicos desconhecem as plantas medicinais e como elas podem interferir na ação dos remédios que eles receitam”, afirma.
Esse é um grande problema. As plantas medicinais interferem na forma como os remédios convencionais agem no organismo. Podem inibir ou exacerbar a ação deles. Alteram o metabolismo dos medicamentos. Eles podem perder a eficácia ou se acumular no organismo.
Nem os médicos, nem os pacientes se dão conta disso. Quem toma uns chazinhos ou umas cápsulas naturais não conta ao médico. Acha que a informação é irrelevante ou teme ser ridicularizado.
Precisamos aprender que essa informação pode fazer toda diferença. Alguns exemplos de interações perigosas entre ervas e remédios:

* A pata-de-vaca (Bauhinia forticata) é uma planta popularmente usada contra o diabetes. O chá dessa erva pode causar hipoglicemia no diabético. Sem saber que esse efeito é provocado pelo chá, o médico pode achar que é necessário reduzir a dose dos remédios. Se isso for feito e a pessoa parar de tomar o chá, os níveis de açúcar no sangue podem subir. “Essa oscilação pode trazer sérios danos ao tratamento e à saúde do paciente”, diz Carvalho.

* Cápsulas de alho (Allium sativum) têm efeito antihipertensivo, antitrombótico e antioxidante. São usadas para prevenir doenças cardiovasculares. Mas não devem ser consumidas por pessoas que tomam anticoagulantes orais e aspirina. Uma outra interação muito perigosa: cápsulas de alho podem reduzir a atividade dos antivirais usados no tratamento da aids.

* A erva-de-são-joão (Hypericum perforatum) costuma ser usada para ajudar a combater a depressão. Muitos pacientes de aids que sofrem de depressão costumam tomar chás dessa erva. Mas atenção: ela também reduz a concentração das drogas anti-HIV no sangue. O tratamento perde eficácia. É ou não é um assunto sério?

* O chá verde (Camellia sinensis) é usado como antioxidante e para ajudar a reduzir os níveis de colesterol. Mas não deve ser usado junto com drogas vasodilatadoras coronarianas ou com a teofilina, um broncodilatador pulmonar.

* O gengibre (Zingiber officinale) ajuda a reduzir náuseas e cólicas. Também estimula a circulação e a digestão. Mas pode provocar fortes reações gástricas. Também não deve ser usado junto com remédios anticoagulantes.

* O suco da toranja (Citrus x paradisi), também chamada de grapefruit, contém uma substância que inibe o metabolismo de remédios contra a hipertensão. Quem tem o costume de tomar esse suco frequentemente (o que é comum nos Estados Unidos) corre o risco de sofrer uma crise de hipertensão. E, provavelmente, vai culpar os remédios pela falha.

Esses são exemplos de algumas interações comprovadas pela ciência. Pode ser que existam muitas outras. O desconhecimento é geral. Carvalho acredita que a situação pode se agravar nos próximos meses. Em 2010, o Ministério da Saúde pretende lançar a Relação Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Renafito). A ideia é estimular o uso desses produtos no SUS.

“Se a população e os médicos não forem muito bem orientados sobre o uso desses recursos naturais, é possível que muita gente venha a enfrentar problemas”, afirma Carvalho.

O Ministério da Saúde divulgou uma lista de 71 plantas que considera útil no tratamento de doenças. Agora está na fase de recolher evidências científicas da segurança e da eficácia dessas plantas. A divulgação da lista definitiva está prevista para julho.

“Vamos oferecer um curso aos médicos do SUS para que eles saibam quando e como adotar plantas e fitoterápicos”, diz Katia Torres, consultora do departamento de assistência farmacêutica e insumos estratégicos do Ministério da Saúde.

Os brasileiros - médicos e pacientes - precisam passar por uma mudança cultural, aprender a encarar as ervas de uma outra forma. Não devemos negar o valor dos recursos naturais nem desprezar o conhecimento tradicional dos indígenas e de outros grupos que nos ensinaram a combater tantos males. Precisamos, porém, reconhecer que o que é natural também pode fazer mal.

Até a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos remédios era derivada de substâncias encontradas na natureza. Com o surgimento da síntese química, a forma como lidamos com os remédios mudou. É mais fácil observar e comprovar os efeitos colaterais dos medicamentos criados em laboratório. “Foi daí que surgiu a ideia de que os remédios sintéticos são uma coisa perigosa, cheia de efeitos indesejados”, diz Carvalho.

Esses efeitos colaterais existem e são muitos. Mas as plantas não são necessariamente inocentes ou inócuas. Elas também podem produzir graves efeitos indesejados. A diferença é que eles são desconhecidos ou desprezados. Posso dar um conselho? Se você é adepto do chazinho ou das cápsulas naturais não esconda esse fato de seu médico. Ele é muito relevante.


CRISTIANE SEGATTO
cristianes@edglobo.com.br
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo

6.8.10

O envelhecer, diferença entre senescência e senilidade



Dr. Fernando Andréa


Bacharel em Educação Física EEFEUSP e Mestre em Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil.

De acordo com o IBGE, a porcentagem de brasileiros com mais de 60 anos na década de 40 era de aproximadamente 4% e a estimativa para 2020 é alcançar 12% da população. Além do envelhecimento da população total, a proporção de pessoas com idade acima de 80 anos está aumentando substancialmente. No ano de 2007 a porcentagem deste grupo etário atingiu 1,4% da população brasileira, algo em torno de 1,6 milhões de pessoas.

A existência humana é marcada, nos seus extremos, por dois fenômenos opostos, a vida e a morte. O ser humano então, passa pela infância, atravessa a mocidade, atinge a maturidade e, finalmente, chega à velhice. Aparecem, então, os primeiros sinais evidentes da usura de todo o organismo (Rosa, 1983).

A velhice é um período de declínio caracterizado por dois aspectos: a senescência e a senilidade.

A senescência é o período em que o declínio físico e mental são lentos e graduais, ocorrendo em alguns indivíduos na casa dos 50 e em outros, depois dos 60 anos. A senilidade se refere à fase do envelhecer em que o declínio físico é mais acentuado e é acompanhado da desorganização mental. Aqui, também, encontramos as diferenças entre as pessoas; algumas se tornam senis relativamente jovens, outras antes dos 70 anos, outras, porém, nunca ficam senis, pois são capazes de se dedicarem a atividades criativas que lhes conservam a lucidez até a morte (Rosa, 1983).

Senescência é uma fase normal da vida de um indivíduo sadio; geralmente inicia-se depois dos 65 anos e não é manifestação doentia; na senescência não ocorrem distúrbios de condutas, amnésias, perda do controle de si mesmo; em outras palavras, é o velho sadio. Senilidade é doença, também conhecida como demência, onde o idoso (às vezes acomete adultos jovens) perde a capacidade de memorizar, prestar atenção, não consegue mais se orientar, fala sem nexo, vai limitando sua vida ao leito, e chega a perder o controle de urinar e defecar. Só 5% dos velhos padecem de senilidade.

Pode-se dizer que o envelhecimento humano ocorre em três níveis diferentes: biológico, psicológico e social.

O envelhecimento biológico envolve mudanças fisiológicas, anatômicas, bioquímicas e hormonais, acompanhadas de gradual declínio das capacidades do organismo.

O envelhecimento psicológico é traduzido pelos comportamentos (abertos e encobertos) das pessoas em relação a si próprias ou aos outros, ligados a mudanças de atitude e limitações das capacidades em geral. Esses comportamentos trazem como conseqüência a ocorrência de inadaptações, readaptações e reajustamentos dos repertórios comportamentais, face às exigências da vida.

O envelhecimento social está relacionado às normas ou eventos sociais que controlam, por um critério de idade, o desempenho de determinadas atividades ou tarefas do grupo etário, e que dão sentido à vida de cada um. Como exemplo, podemos citar: o casamento é um evento que ocorre geralmente nos anos da juventude ou no início da vida adulta. O nascimento de filhos é mais comum no período entre dezoito e trinta anos.

A aposentadoria ocorre, compulsoriamente aos setenta anos, ou com 30 ou 35 anos de trabalho comprovado. Essas normas ou eventos sociais contribuem para o estabelecimento de muitos preconceitos. Assim por exemplo, citando Neugarten e Datan (1974), para reforçar este ponto, a aposentadoria está supostamente relacionada como início da vida incapacitante e desintegradora, ou seja, a Velhice.


A atividade física é um dos meios mais barato e mais saudáveis na qual pode melhorar a nossa saúde. Para o idoso, a atividade física é de fundamental importância, pois, o processo de envelhecimento beneficia as perdas, principalmente, nos aspectos cognitivos e físicos, assim a atividade física torna-se um fator o qual pode ajudar a amenizar estas perdas (RABACOW et al., 2006).

Aceitar as transformações que ocorrem tanto nos aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais na terceira idade é uma das formas de encarar os problemas decorrentes desta fase da vida, de forma a minimizá-los por meio da atividade física, participação na comunidade, passeios e entre outros (ZIMERMAN, 2000).

Referencias Bibliográficas

NEUGARTEN and DATAN. The Middle Years in S.Arieti, New York: Basic Books, 1974.
Paiva, Vilma Maria Barreto. A velhice como face do desenvolvimento humano. http://www.nehscfortaleza.com/artigos_arquivos/artigo_039.htm
RABACOW, Fabiana Maluf et al. Questionários de Medidas de Atividade Física em Idosos. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, Florianópolis, v.8, n.4, p. 99-106, 2006.
ROSA, M. (1993). Psicologia Evolutiva: psicologia da idade adulta. Petrópoles: Vozes.
Miranda, Thaís C. Senescência e senilidade - O que é isso? http://www.oncoguia.com.br/site/interna.php?cat=117&id=1791&menu=2
ZIMERMAN, Guite I. Velhice: Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed, 2000.

“O idoso, depressão e atividade física”

Dr. Fernando Andréa
Bacharel em Educação Física EEFEUSP e Mestre em Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil.


O envelhecimento traz para os indivíduos alterações progressivas, quer nos aspectos funcionais, quer nos motores, psicológicos e sociais. Estas alterações variam de um indivíduo para outro e são influenciadas, tanto pelo estilo de vida quanto por fatores genéticos. Dentre as modificações provenientes do envelhecimento destaca-se a diminuição da capacidade funcional do indivíduo ocasionada principalmente, pelo desuso físico e mental (NIEMAN, 1999).
Estudos demonstram que cerca de 25% da população idosa mundial depende de alguém para realizar suas atividades da vida diária (ANDREOTTI; OKUMA, 1999). De acordo com Kuwano & Silveira (2002), o sucesso do indivíduo em sua adaptação social decorre da importância das atividades da vida diária (AVDS), pois estas representam vitória no desempenho das tarefas de cuidado pessoal.
A depressão é uma condição clínica freqüente no idoso, estudos epidemiológicos indicam taxas de prevalência que variam de 1 a 16% entre idosos vivendo na comunidade (COPELAND et al., 1987; VERAS; MURPHY, 1994).

Segundo Stoppe & Louzã-Neto (1999), existem diversos fatores envolvidos na etiopatogenia dos transtornos depressivos nos idosos. Os autores ressaltam que estes fatores não atuam iso ladamente, sendo os transtornos depressivos a expressão de uma variável combinação entre estes. Entre estes fatores podem ser citados:


Fatores genéticos (que reduzem com a idade)
Sexo (maior prevalência no sexo feminino)
Fatores psicossociais (eventos vitais, suporte social e luto)
Possíveis fatores neurobio lógicos (ritmos biológicos, alterações de estrutura e função cerebrais e neurotransmissores)


Estudos relatam os benefícios da prática de atividade física regular, principalmente, no que diz respeito a uma melhora na saúde mental. As atividades aquáticas, por exemplo, podem contribuir para o tratamento de várias enfermidades mentais, incluindo neuroses de depressão e ansiedade (MOREIRA, 2001). Borges e Rauchbach (2004) observaram que idosos que não têm o hábito da prática de atividade física apresentam uma maior tendência ao estado depressivo.
Para Lorda e Sanchez (2001) a prática de atividades físicas promove um desenvolvimento integral do idoso, pois, trabalha entre outros, a saúde física, a socialização (integrando o idoso ao seu meio social, ampliando as relações sociais e estimulando o convívio), e a sensibilidade, tornando-se um processo terapêutico de restauração e qualidade de vida, devolvendo no idoso o prazer de viver.


O processo de envelhecimento por ser uma fase marcada por perdas afetivas, físicas e sociais não deve ser encarado como incapacidade. Mas sim, como uma nova fase da vida, a qual precisa de adaptação, incrementando na vida do idoso novos hábitos de vida (MAZO et al., 2005).
É sabido que o exercício físico pode ser usado no sentido de retardar e, até mesmo, atenuar o processo de declínio das funções orgânicas que são observadas com o envelhecimento, pois promove melhoras na capacidade respiratória, na reserva cardíaca, no tempo de reação, na força muscular, na memória recente, na cognição e nas habilidades sociais. Vale salientar que os exercícios físicos devem ser executados de forma preventiva, ou seja, antes de a doença apresentar suas manifestações clínicas. As intervenções reabilitadoras devem ser programadas de modo a atender às necessidades de cada indivíduo e, dessa forma, a atividade física deve ser mantida regularmente durante toda a vida para que o indivíduo possa gozar de melhorias na qualidade de vida e aumento na longevidade (CARDOSO,1992).

Atualmente, segundo Drewnoski et al. (2003), muito mais importante que o
envelhecimento cronologicamente determinado é o envelhecimento bem sucedido.
Este último é definido como a manutenção do funcionamento físico e mental e do envolvimento com as atividades sociais e de relacionamento. Algumas recomendações visando este objetivo incluem orientações sobre a dieta e a prática de atividade física visando à melhora da qualidade de vida.



Referências bibliográficas
ANDREOTTI, R.A.; OKUMA, S.S. Validação de uma bateria de testes de atividades da vida diária para idosos fisicamente independentes. Revista Paulista Educação Física, São Paulo, 13( 1): 46- 66,1999.
BORGES, S.S.; RAUCHBACH, R. Tendência a estados depressivos em idosos que não tem o hábito da prática da atividade física: um estudo piloto no município de Curitiba. Revista Lecturas: EF y Deportes, Buenos Aires, v.10.n.70: março, 2004.
CARDOSO, J.R. Atividades físicas para a terceira idade. A terceira idade. 1992; 5 (4) : 9-21.
COPELAND, JRM, DEWEY, ME, WOOD, N. et al. Range of mental illnesses amongst the elderly in the community: prevalence in Liverpool using AGECAT. Br J Psychiatry, 1987, 150: 815-823.
Drewnowski A, Monsen E, Birkett D. Health Screening and Health. Promotion Programs for the Elderly. Managed Health Outcomes. 2003.


LORDA, C. Raul; SANCHEZ, Carmem Delia. Recreação na 3ª Idade. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.
MAZO, Giovana Zarpellon; LOPES, Marize Amorim; BENEDETTI, Tânia Bertoldo. 2.ed. Atividade Física e o Idoso: Concepção Gerontológica. Porto Alegre: Sulina, 2004.
NIEMAN, D. Exercício e saúde. São Paulo : Manole, 1999
SILVEIRA, L.D. Níveis de depressão, hábitos e aderência e programas de atividades físicas de pessoas com transtorno depressivo. (dissertação de mestrado). Florianópolis, SC: UFSC, 2001. 113p.
Stoppe Jr A, Louza Neto MR. Etiopatogenia da depressão em idosos. In: Stoppe
Jr A, Louza Neto MR, editors.Depressão na Terceira Idade: apresentaçãoclínica e abordagem terapêutica.Lemos Editoral, 1999.VERAS, R.P., MURPHY, E. The mental health of older people in Rio de Janeiro. Int J Geriatr Psychiatry, 9, 1994, p.285-295.

3.8.10

Os mitos sobre o cérebro

O cérebro é um dos mais incríveis órgãos do corpo humano. Ele controla nosso sistema nervoso central, mantendo-nos andando, falando, respirando e pensando. O cérebro é também incrivelmente complexo, sendo composto de cerca de 100 bilhões de neurônios. Há tanta coisa acontecendo no cérebro que existem vários campos diferentes da medicina e da ciência devotados a tratá-lo e a estudá-lo, incluindo a neurologia, que trata distúrbios físicos do cérebro; a psicologia, que inclui o estudo dos processos comportamentais e mentais; e a psiquiatria, que trata doenças mentais e distúrbios. Alguns aspectos de cada um tendem a se sobrepor, e outros campos se cruzam dentro do estudo do cérebro também.


Essas disciplinas estão aí de alguma forma desde os tempos antigos, por isso você poderia pensar que até o momento já deveríamos saber tudo o que há para saber sobre o cérebro. Nada poderia ir além da verdade. Depois de milhares de anos de estudo e tratamento de cada aspecto dele, ainda há muitas facetas do cérebro que permanecem um mistério. E porque o cérebro é tão complexo, tendemos a simplificar a informação sobre como ele funciona para torná-lo mais compreensível.


Essas coisas colocadas juntas resultaram em muitos mitos sobre o cérebro. A maioria não está totalmente fora - nós apenas não ouvimos a história toda. Vamos dar uma olhada nos 10 mitos que têm circulado sobre o cérebro, começando com sua cor.

Veja o artigo na íntegra aqui












1.8.10

Amar é amar, e dar é dar. (A boa autoestima)

Por Flávio Gikovate *

Solidariedade é um sentimento humano sofisticado, através do qual nos integramos em uma dada comunidade. Nos sentimos parte dela, corresponsáveis por seu destino e dispostos mesmo a morrer em sua defesa. Nossa identidade se afrouxa, de modo que nos tornamos antes uma ínfima parte daquele todo e depois nós mesmos. Nosso destino se identifica com o destino daquele grupo. O sentimento pode nos fazer integrado a toda a humanidade, o nos permite entender as palavras do poeta quando ele fala "desses pobres de nós seres humanos".

Outras vezes usamos, inadequadamente, a expressão amor ao próximo para descrever situações nas quais não estamos integrados mas estamos preocupados com as pessoas que nos cercam. Compaixão descreve um sentimento derivado de nos sentirmos sofridos em virtude de nos identificarmos com o sofrimento daqueles que estão à nossa volta. Determina um desejo de ajudar aqueles que estão necessitados. É um sentimento vivido por alguém que se encontra em uma boa condição mas que se incomoda com o fato dela não ser compartilhada por outros membros do grupo.

Na solidariedade, somos parte do grupo e nos sentimos integrados nele. Na compaixão, estamos fora do grupo e sofremos com as dores dele. Em nenhum dos casos cabe a expressão "amor ao próximo", quase sempre usada quando nos preocupamos com o destino daqueles que nos cercam e principalmente quando nos preocupamos em ajudar os que estão próximos. Daí outra confusão, através da qual se costuma dizer que "amar é dar". Amar é amar e dar é dar! Trata-se de dois verbos com significado completamente diferente.

Amor próprio e autoestima derivam da idéia de que existiria um efetivo amor por si mesmo, o que contraria frontalmente a definição de amor que venho defendendo há mais de 30 anos anos. Acontece que existe alguma coisa que sentimos em relação a nós mesmos. Só que não se trata de um ingrediente amoroso e sim sexual. Não existe amor por si mesmo mas existe um importante elemento autoerótico. Existe um tipo de excitação sexual que deriva de nos sentirmos importantes, valorizados, olhados com admiração. Corresponde ao que chamo de vaidade. Vaidade é conceito mais útil do que narcisismo, já que esse último implica na continuidade da confusão entre sexo e amor. Narcisismo não seria amor por si mesmo mas sim erotismo focado em si mesmo para esse fim, a palavra vaidade presta melhores serviços.

Por força da interferência da razão, a vaidade também está a serviço da preservação da nossa integridade. Ela nos protege contra ofensas sutis à nossa pessoa, aquelas que ferem nossa vaidade. Ela nos protege porque, quando ofendidos , sentimos o oposto da sensação positiva da vaidade, que é a humilhação. Humilhação é a dolorosa sensação que vivenciamos quando somos depreciados, olhados com desprezo ou desdém.

Dizemos que temos amor próprio quando nos insurgimos contra situações de humilhação. O termo ideal para substituir amor próprio talvez seja orgulho - ou seria honra? Nos sentimos ofendidos e gravemente feridos quando somos tratados de modo desconsiderado, o que nos provoca a sensação de humilhação, o que ofende nosso orgulho. O fenômeno não é amoroso e a ofensa nos incomoda mesmo quando vem de alguém que mal conhecemos. É claro que nos magoa mais quando somos agredidos por aqueles que nos são caros e mais ainda pelo amado.

Autoestima, apesar de estima significar afeição, diz respeito ao juízo que fazemos de nós mesmos. Nossa autoestima é boa quando somos e agimos de uma forma que nós próprios aprovamos a autoestima é baixa quando nós mesmos não estamos concordando com nossos procedimentos. É claro que a opinião dos outros pode interferir em nossa autoestima. Porém, um elogio ou qualquer ação externa que nos enalteça não nos provocará nenhum efeito se não estivermos satisfeitos com nossas posturas. É fato também que uma crítica vinda de fora, dirigida a quem já está tendo um juízo negativo de si mesmo, será muito mais facilmente absorvida.

Não consigo pensar numa boa expressão que substitua "autoestima" com vantagem. Reafirmo, porém, que não se trata de gostar de si mesmo e que uma boa autoestima depende de estarmos vivendo de acordo com nossas próprias convicções.

O que pensar quando se ouve uma multidão de indivíduos repetir, sem qualquer esforço reflexivo, que "para ser capaz de amar uma pessoa tem que, antes, amar a si mesma"? A frase lembra aquela que se lê na Bíblia, que pede que amemos o próximo como a nós mesmos. Não sou um bom entendedor do texto bíblico mas creio que o termo amor foi usado num sentido muito mais amplo do que descrevi nesse texto. Penso que o texto bíblico pede às pessoas que tratem seus semelhantes com a consideração, respeito e zelo que esperam ser tratados. A reflexão é antes de tudo moral, na qual uma pessoa não deveria se atribuir mais direitos do que aqueles atribuídos às outras. Não creio que esteja se referindo ao relacionamento íntimo entre duas pessoas.

Por outro lado, se refletirmos sob a ótica da psicanálise, o narcisista aquele que, segundo essa teoria, ama a si mesmo não é capaz de amar outras pessoas. O amor se concentra em si mesmo por medo de se deslocar em direção ao outro. Medo sim, pois sabemos que o amor envolve risco de sofrimento derivado de uma eventual perda sabemos que o narcisista é criatura imatura e que, por tolerar mal dores e frustrações, não se arrisca. Assim, não tendo capacidade para amar, apenas espera receber amor dos outros, além de amar a si mesmo.

Essa também não é minha convicção, já que pessoas assim imaturas e medrosas não têm boa autoestima. Fingem estar bem consigo mesmas mas é só aparência. No fundo, sabem que são um blefe e por isso mesmo se tornam invejosas daqueles que são mais corajosos. Assim, não creio que se amem, de modo que, mesmo se respeitarmos as teses psicanalíticas, não deveriam ser chamadas de narcisistas. Se existisse amor por si mesmo, como já escrevi, provavelmente não existiria o amor como o vivenciamos. Quem é corajoso, ousa amar e tenta aliviar o desamparo através do aconchego que a presença do outro determina.

Quem tiver boa autoestima - e isso é muito diferente de amar a si mesmo - será, isso sim, capaz de escolher melhor o parceiro, uma vez que se considerará com direito a uma companhia à altura do julgamento que faz de si mesmo.

*Flávio Gikovate é médico e psiquiatra, colaborador de diversos jornais e revistas e autor de Falando de Amor e O amor nos anos 80.